Morre WALTER FERNANDO PIAZZA, o Historiador de Santa Catarina
Santa Catarina está de luto. Despediu-se na última quarta-feira,10 de fevereiro,do emérito Professor e Historiador Walter Fernando Piazza, a maior referência no estudo da História de Santa Catarina – “A ocupação do território”, “Contributo do Povoamento Açoriano e Madeirense”, “A Imigração do Século XIX”, “A Cultura Catarinense e o seu Patrimônio”, são alguns dos muitos temas a que se dedicou, ao longo de sua vida acadêmica, como professor e profundo pesquisador. Sem sombra de dúvida, um dos historiadores mais completos e que mais publicou sobre a História do Estado.
Morre aos 91 anos, deixando uma vultosa obra com algumas centenas de títulos, entre livros, resenhas e artigos em revistas científicas, publicadas no Brasil e no exterior, especialmente em Portugal (Açores e Madeira)- regiões com quem sempre manteve intenso e profícuo intercâmbio acadêmico. Cita-se, à guisa de exemplo a obra “A Epopéia Açórico-Madeirense,1748-1756”,(Ed. Lunardelli,1992), uma leitura obrigatória nas duas margens atlânticas seja pelos estudantes da escola secundária e das universidades, seja por todos aqueles que desejam conhecer a grande aventura dos ilhéus açorianos e madeirenses na conquista do Novo Mundo por terras do Sul do Brasil. Mais do que tudo, há em cada página um testemunho do seu entusiasmo e imenso amor às ilhas açorianas, berço de seus ancestrais terceirenses, da freguesia da Agualva, Manuel Jacques e sua mulher Dona Catarina de São José, falecidos no distrito da Lagoa da Conceição, Ilha de Santa Catarina, em fins do século XVIII. O “casal açoriano” deu origem a linhagem dos Boiteux, família de grande influência na vida cultural e política do Estado. Como reiteradamente afirmava Piazza: “sou fruto de uma organização familiar dedicada à história de Santa Catarina”.
Natural de Nova Trento (1925), aos 22 anos muda-se para Florianópolis e dali se fez ouvir até o dia de sua morte por toda Santa Catarina. Seu valioso legado está nos livros, na palavra, nos alunos e uma geração de historiadores contemporâneos.
A Educação, a Cultura, a História de Santa Catarina devem muito ao Historiador e Mestre Walter Piazza. Coube a ele a introdução da cadeira de História de Santa Catarina na Universidade Federal de Santa Catarina (1973).
Professor Walter Piazza, doutor em Ciências Humanas e professor de História do Brasil na UFSC, presidiu o Conselho Estadual de Educação e o de Cultura. Membro da Academia Catarinense de Letras, Cadeira 31, Sócio Emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina/IHGSC (sendo seu Presidente por vários mandatos) e de inúmeras Instituições congêneres do Brasil. Foi o único historiador de Santa Catarina, até os dias de hoje, admitido como Sócio Emérito, no Instituto Histórico Brasileiro (IHB). Também pertencia ao Instituto Cultural de Ponta Delgada e ao Instituto Histórico da Ilha Terceira. Walter Piazza visitou os Açores em 1984, tendo sido professor visitante da UAC no abrigo de Convênio de Intercâmbio assinado entre a UFSC e a UAC.
Neste mar de aproximações entre Santa Catarina e Açores, iniciados na década de 80, com a vinda do Professor Machado Pires, então Reitor da UAC, em março de 1984, o Professor Walter Piazza é, ao lado de Osvaldo Ferreira de Melo, um dos pilares desta nova fase de relacionamento entre “Açores-Santa Catarina”, fortalecendo laços históricos e uma Identidade cultural perdida no tempo e que muito dignifica a gente catarinense. Raízes perdidas e (re)encontradas, graças à persistência e a competência investigativa do historiador Walter Fernando Piazza.
A historiografia catarinense que teve nos irmãos José Artur Boiteux e Lucas Alexandre Boiteux a sua maior representatividade, encontra em Walter Fernando Piazza a expressão dos novos rumos da pesquisa histórica, do estudo e do ensino das Ciências Sociais e da História, num universo onde tudo se encontra no simples “teclar”.
Devo à Walter Fernando Piazza, mestre e amigo, o incentivo ao estudo da cultura açoriana e da sua manifestação em terras catarinenses. Por suas mãos descobri os Açores e sua gente. Simplesmente, me apaixonei e fiquei.
Meu respeito e minha admiração. Minha saudade,
Lélia Pereira Nunes
(*) da Academia Catarinense de Letras
do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina