Lélia, purpurata
e consanguínea
Laelia purpurata, a flor, é o símbolo ecológico da Ilha de Santa Catarina. Lélia Pereira da Silva Nunes, a escritora, é o símbolo da “consaguinidade” dos valores culturais em permanente floração, na ilha capital de Santa Catarina, Brasil, e no arquipélago português do meio-Atlântico.
Neste seu múltiplo “Na Esquina das Ilhas” Lélia tece com a habilidade de mestre artesã a tapeçaria linguística e temática comum às ilhas do norte e do sul, produzindo essa renda de indiscutível crivo literário com que arremata duas décadas de devoção às ínsulas e aos seus bens artísticos, patrimoniais e turísticos. Lélia tem sido essa incansável “demiurga”, essa pulseira de união entre as ilhas, fazendo da Ilha de Santa Catarina a décima do arquipélago, ou, milagreira, trazendo as nove açoritas aqui para o Atlântico Sul.
Lélia junta-se a mestres como Vitorino Nemésio e OthonGama D’Eça, admiráveis escritores telúricos, de lá e daqui, que deixaram obras de grande qualidade genética, e de tangência comuns na temática e na estilística, embora um não soubesse da magnificência do outro.
Lélia foi tocada, como os seus dois conterrâneos, pela oceânica curiosidade de apurar os ouvidos e as antenas para os falares, os usos e os costumes dos seus povos, imprimindo a esse hábito a salutar serventia que lhe atribuía o grande Eça de Queirós: “A curiosidade é das boas virtudes humanas, porque, se por um lado faz espiar pelos buracos das fechaduras, por outro, leva a descobrir a América”.
Lélia já pode se passar por uma nativa do Pico, ao ouvir as sagas baleeiras do Campo Raso, como se fosse a dona da taberna onde conviviam os pescadores, à luz de candeeiros nutridos por óleo de baleia e abençoados pelo espectro do próprio Capitão Ahab, fugido do “Moby Dick”, de Herman Melville.
Assim como o açoriano Onésimo Teotónio de Almeida, navegando em seu “Prosema sobre o Mar” já pode sentar-se num boteco da Praia Mole, em Floripa, dividir uma mesa com as bruxas de Franklin Cascaes, e avisar:
– Tô lendo a Lélia desde “djá” hoje!
E todos se entenderão, só porque a Lélia está de sentinela, velando e zelando pelas nossas culturas, bem “Na Esquina das Ilhas”.
Sérgio da Costa Ramos
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