NA GRUTA
À sombra destas frondosas
Criptomérias,
Altas e vistosas,
Em cujas entranhas
Se escondem as misérias
Humanas, descanso.
A cada passo,
Meus olhos divisam
A nobreza
Encantadora
Da natureza.
Aquém, vejo agora
Uma roseira
De cor diferente
Das outras que me rodeiam…
Além, uma hortênsia
Azul marino,
Me sorriu!
Ao lado, uma alva como a neve,
Se exibe na magnificência
Premente
Do Criador.
E, neste ambiente
Deslumbrante
De paz e de amor,
Adormeço.
Neste sono leve
Que me esqueço
De mim mesmo,
Sonho de estrelas cadentes,
De esbeltas sereias
Bailando sobre as vagas,
Até mesmo sonho de serpentes
Multicores
Que a esmo
Se rastejam no deserto
Da minha infância.
Ao acordar,
Sinto as dores
Da distância
Que nos separa. De certo
Tudo isto é sonho
Do que fui e já não sou!
Quase me envergonho
A pensar
No que da vida me restou.
Lá longe o sol desponta
Sobre a montanha.
É manhã.
Silêncio profundo.
Só eu e uma garça que voa
Irrequieta,
Tonta,
Estranha,
Nas margens da lagoa
E, num segundo,
Me vem à mente
Do teu sorrir a beleza,
De teus lábios a doçura,
O calor
Ardente
Do nosso amor.
Mas, oh tristeza,
Tudo isto não é mais do que amargura.
Machado Ribeiro, Sol Posto
Machado Ribeiro é pseudónimo de Décio Garcia Machado Oliveira (1938), dentista, poeta. Natural da Ribeira Grande, ilha de S. Miguel, vive em S. José, Califórnia.
NOTA: Poema recitado por Olegário Paz, Jorgense e residente em Amadora, Portugal.