Neste Natal
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Humberta Araujo
Há um mistério
rasgando a minha geografia
no negro melaço das noites,
rompendo o choro das enfeitiçadas
madrugadas.
Neste Natal
Nas margens dos teus lábios perdidos
passa o sargaço de noites aluaradas.
Fico assim do outro lado
abandonada
na cadência moída das marés
roendo o desespero de tanto mar
de tantos mistérios vomitados
tranças de negrume que salgam
ao tocar o lagar dos nossos vinhos.
Nas bocas
aguardentes fervem.
As furnas na incontinência das águas de enxofre
curandeiras, males, remédios
para o amor de tantos silêncios supersticiosos.
Neste Natal
A língua vai-se perdendo nos dialectos de outras existências
longe onde a marejada não galga
onde o nome para as coisas
perde-se nas lezírias
de tantos outros horizontes
peles, sinónimos
dor sangrenta advinda do nome
teus beijos
aqui não se beija ilha
a língua não sabe a mel
o suor não traz consigo o marulho das vidas
que tivemos, que fizemos, que deixamos
embaladas nos afastamentos.
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Humberta Araujo,açoriana da Ilha de São Miguel.
Jornalista e escritora
Managing Editor/Directora IMF/ESF
Multilingue Magazine Portuguese Youth
TORONTO, Onn:ww.iamfuture.blog.ca
