ninguém sabe o malefício dos anos
de que é capaz. a poalha dos dias cai
sobre o corpo sobre a mente
e o sol fica fosco poente precoce
e abandonado. o ranger das dobradiças
dos ossos faz-se ouvir durante a noite
como pesadelo engordando de esclerose e vazios.
é tudo tão natural que até a poesia faz mal:
azias metafóricas colesterol desrimado
versos em ácido úrico e imagens de pedra
rolando pelo rim como se a idade não cansasse.
ninguém sabe os malefícios dos anos
como abre a porta à morte e a faz sentar
na sala do coração como térmita abusadinha
roendo roendo a vida até que se vai
com aquele seu andar de piranha ou de poeta
que se aborreceu de o ser…
Álamo Oliveira, Inédito (julho/2009)
José Henrique Álamo Oliveira (1945) poeta, escritor, encenador, pintor, natural da ilha Terceira onde vive.
Recitado por Olegário Paz
FOTO: Acervo Blog Comunidades