Estamos às vésperas de mais uma eleição e a campanha eleitoral está nas ruas e nas nossas casas. Um atributo em particular está me surpreendendo nesta campanha eleitoral – a valorização do status “açoriano”e a aura de credibilidade subjacente. Inúmeros candidatos oriundos do litoral e,sobretudo, da região da Grande Florianópolis enfatizam a sua origem vincada nos Açores e que, se eleitos, vão lutar pela preservação dessa herança e pela difusão das expressões culturais nativas.Os laços identitários estão mais mais vivos do que nunca!
Isto faz lembrar das inúmeras citações sobre o vínculo ancestral açoriano de determinadas personalidades brasileiras tanto no passado, quanto na atualidade. No caso de Santa Catarina,o maior exemplo vem da família Ramos, berço de ilustres catarinenses, que tem as suas raízes na Ilha Terceira,no casal Matheus José Coelho e Maria Antônia de Jesus, naturais de Angra, emigrantes do século XVIII. O tronco da família foi Laureano José Ramos nascido a 18 de março de 1877, num domingo de Ramos.Seus pais,cristãos novos,substituíram o patronímico Coelho por Ramos. Descendentes de Laureano tiveram atuação destacada no cenário político nacional como a figura exemplar de Nereu de Oliveira Ramos, o único catarinense Presidente do Brasil,entre 1955 e 1956. Por quase dois séculos,os Ramos exerceram forte liderança política, época que a palavra empenhada, proferida no discurso político ou no dia a dia do homem público tinha a força de lei e valia“o fio da barba”.
O poder não esmoreceu e continua fortalecido na palavra escrita, livre e criativa de uma nova geração de tetranetos de Laureano José Ramos,presente no jornalismo e na literatura. Neste universo,Sérgio da Costa Ramos,filho do jornalista Rubens de Arruda Ramos, é touchstone ou a pedra de toque.
Sérgio nasceu em Florianópolis.A sua fértil produção literária compreende as crônicas publicadas na coluna do Diário Catarinense e seus inúmeros livros,comprobatória da sua escrita lídima, de uma prosa deliciosa e inigualável.
A crônica é a sua praia. A par da elegância e da força do estilo, seu texto transpira esperança e confiança,mesmo quando nada parece estancar a sangria da corrupção,a falta de planejamento urbano, o caos na saúde pública, as mazelas sociais que o discurso político laudatório esconde no tapete da improbidade. Se sua prosa, ora se apresenta dura, plena de ironia sutil, ora é de uma leveza poética ao alongar seu olhar apaixonado a falar da Ilha de Santa Catarina. Sua escrita há muito deixou de ser regional, navega livre por outros mares, seja por este continente Brasil, seja no além-mar por terras de Portugal. Não tenho dúvida em afirmar que Sérgio da Costa Ramos honra o legado dos seus ancestrais terceirenses Maria Antónia de Jesus e Matheus José Coelho, seu quinto avô. Sua escrita transborda Açores, mesmo sem nunca ter estado lá. Escreve com alegria festeira do sotaque da Terceira.
No fundo,é açoriano com certeza.