PorqueHojeEhSabado
12.10.06
Dito por Olegário Paz
Açorianidade – 120 [Raposo de Oliveira, “Na mar da vida”. Armandinho Filho, “Meditando”].
(Vincent van Gogh, 1882)
NO MAR DA VIDA
Partiu meu Coração na Galera dourada.
Bela, no alvor da hora, ia ao leme a Ilusão.
Sangrava o Sol, sonhava o Mar, e em luz banhada
A Terra erguia ao alto a matinal canção.
E êle por lá andou, na esplêndida jornada,
Cantando, amando, e crendo, o moço Coração.
Viu terras de mistério, e a ilha enfeitiçada
Onde ha beijos a arder, em bôcas de Paixão.
Volta hoje ao seu porto o saudoso navio,
E na tarde de cinza, a enegrecer o rio,
Vejo-o surgir, Senhor! desmantelado o pano,
A couraça fendida – um farrapo, a bandeira!
E vejo, a estremecer, nesta luz derradeira,
Chorando, junto ao leme, um velho – o Desengano!
Raposo de Oliveira,
Via Sacra,
Lisboa, Livraria Universal de Armando Tavares, 1927.
Francisco Raposo de Oliveira (1881-1933), empregado de comércio, funcionário público, jornalista, poeta, natural da vila de Nordeste, ilha de S. Miguel, residiu e trabalhou em Ponta Delgada e Lisboa onde faleceu.
Beach with Figures and Sea with Ship, by Vincent van Gogh. 1882. Oil on Paper on Cardboard.