Selecionado e declamado por Olegário Paz
No Pego do Mar
Na ilha parada
o menino do mar,
que sou (e hei sido),
é vela salgada
num ar de redoma
– envolto e pesado –
não passa de si!
Persiste quem é
o menino do mar
(que tenho de ser);
a nuvem que corre
desfaz-se, é perdida
no mar retraído
dum sonho incontido!
E o menino do mar
(que sempre serei)
ficou-se a olhar
e há-de morrer
pelo dom de saber
que o sonho-sem-onde
não força ou deslinda
o firme poder
de ser sem querer.
João Afonso,
Enotesco, Diário insular, Angra do Heroísmo, 1957.
João Dias Afonso (1923), funcionário público, jornalista, escritor, poeta, nasceu em Angra do Heroísmo onde sempre residiu e trabalhou.