Eu já tinha visto imagens e ouvido muitas referências ao Festival “Música no Colégio”, primeiro via Urbano Bettencourt. Imaginei o cenário e o ambiente porque todo aquele barroco de basalto da fachada da igreja jesuíta em pano de fundo era meio-caminho andado para uma experiência a não perder. E foi.
O Coro Sinfónico do Coral de S. José (outro produto da influência do nosso querido Edmundo Oliveira, pelo menos na origem), mais a Sinfonietta de Ponta Delgada excederam tudo o que eu tinha esperado. Já só apanhámos a série no quarto e último dia, que foi dedicado a Verdi para comemorar os 200 anos do seu nascimento. Eu, que sempre revelei um fraco por ele certamente por falta de sofisticação musical mas sobretudo por causa dos coros, vacinado que fui em Angra pelo mestre Edmundo, tive uma festa. O desfile de peças foi nesta ordem: “O Signore dall tetto natio”, de I Lombardi; três peças de Nabucco (uma delas, o indispensável “Va Pensiero”); do Rigoletto, “La donna è mobile”; “Rataplan”, de La Forza del destino; o prelúdio e dois coros de La Traviata; o “Coro das Bruxas”, de Macbeth; dois coros (“dos soldados” e “dos ciganos”, de Il Trovatore; e um triunfante final com a “Marcha Triunfal” da Aida. A direcção musical foi de um, para mim desconhecido mas não mais, Luís Filipe Carreiro.
Uma noite de lua quase cheia, um aproveitamento deveras criativo da arquitectura e espaço envolventes que se encheu a transbordar pela rua nascente do Jardim Antero de Quental, tudo a culminar com um desempenho tanto do coro como da orquestra não só de não envergonhar ninguém como de deixar no ar a sensação de gostosa surpresa repetindo cá para dentro: o que é possível fazer-se hoje nestas ilhas!
Fomos de alma cheia vasar uns copos nas Portas do Mar.
(*)Nota: Onésimo T.Almeida é o autor da nota e das fotos.