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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de “Nunca senti que fosse apenas portuguesa ou apenas canadiana” / “I never felt like I was only Portuguese, or only Canadian”- Nelly Furtado
Comunidades 15 out, 2015, 01:03

“Nunca senti que fosse apenas portuguesa ou apenas canadiana” / “I never felt like I was only Portuguese, or only Canadian”- Nelly Furtado

“As palavras inspiradoras e poderosas da Nelly transmitem uma forte mensagem de comunidade, herança e cultura”. Luis Pacheco

Agradeço ao Luís Pacheco por me ter chamado atenção para a versão inglesa do texto  escrito pela sua amiga Nelly Furtado (“I never felt like I was only Portuguese, or only Canadian,” e agradeço à Nelly a oportunidade de o publicar no ComunidadesRTPAcores  a 13 de outubro de2015,  e assim ser partilhado por milhares de leitores pelo mundo.
Decidi traduzir a versão inglesa e original do texto para se levar a mensagem aos demais leitores de lingua portuguesa.
Irene Maria F. Blayer, PhD
Full Professor – Brock University

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“As palavras inspiradoras e poderosas da Nelly transmitem uma forte mensagem de comunidade, herança e cultura”
. Luis Pacheco


"Nunca senti que fosse apenas portuguesa ou apenas canadiana" Nelly Furtado

Nasci em Victoria, British Columbia, onde a minha mãe e o meu pai se esforçaram sempre para que tanto os meus irmãos como eu víssemos a nossa herança portuguesa como uma benção e nunca como um fardo. Encaravam a nossa herança de portugueses-canadianos como algo para se construir, se acalentar e certamente algo para partilhar com os demais. Eles tinham trabalhos humildes mas importantes, a minha mãe cuidava do serviço de limpeza de um hotel muito frequentado, e o meu pai era proprietário de uma companhia de jardinagem e de alvenaria.
     Tínhamos uma vida modesta, mas os meus pais sempre garantiram que tivéssemos tudo o que precisávamos. A minha mãe levantava-se muito cedo, embalava-nos os almoços, fazia-nos o pequeno-almoço, e depois transportava-me às aulas de música de orquestra e jazz cinco manhãs por semana, levava-nos a todos à escola portuguesa ou à banda filarmónica portuguesa às noites, e levava-nos a danças de folclore, a concertos de bandas portuguesas nos fins de semana, e às festas que ocupavam o nosso já preenchido horário.
     Eu adorava tocar nas marchas com o meu trombone, que aprendi a tocar aos nove anos, pela altura em que o meu avô faleceu, o Maestro Virginio Neto, que dirigia e às vezes compunha para a Lira de Ponta Garça, em São Miguel, nos Açores. Sempre que toquei ou ensaiei com a Lira, foi em sua homenagem.
     A minha mãe nunca se limitou ao estereótipo de emigrante a trabalhar na indústria de trabalho manual. Ela nunca deixou que as suas circunstâncias a limitassem. Embora a sua família em Ponta Garça fosse desprovida dos meios económicos que lhe possiblitassem estudar quando era criança, quando emigrou para o Canadá, aos 25 anos de idade, aprendeu sozinha a falar, ler e escrever em inglês, que ela adorava praticar em casa connosco. Até hoje partilhamos o nosso amor pela literatura inglesa, trocamos romances e risos juntas. Na vida adulta, a minha mãe era um verdadeira estadista, que na sua função de secretária da igreja oferecia argumentos válidos e pertinentes. Irradiava sempre estilo, sofisticação e vitalidade. Criou-nos para sermos intelectuais, criativos, darmo-nos ao luxo das nossas fantasias, e mais importante, acreditarmos nos nossos sonhos.
     O meu pai, um artista e sonhador, incutiu-me o amor pelo espectáculo. Ele costumava levar-me com ele para ver as canções ao desafio, sessões de canto improvisado, nas freguesias durante as nossas férias em São Miguel. Às vezes, ele decidia juntar-se espontaneamente ao espectáculo, saltava para o palco e cantava. Eu ficava hipnotizada com aquele drama, a humanidade e a experiência única daquele fado rural e vadio. 

     A genuinidade do fado açoriano ao desafio influenciou muito o modo como hoje escrevo canções. Chamo-lhe canto livre… e invento-o à medida que vou avançando.
     Como luso-descendentes a viver no Canadá, temos um longo caminho a percorrer e muitas montanhas para conquistar. Podemos conseguir isso através duma mudança na nossa ideologia. 
     Precisamos de nos recusar a aceitar estereótipos para nós próprios.
    Se os meus pais se tivessem atido a estereótipos eu não teria conseguido nunca imaginar-me fora de uma certa “bolha” da sociedade. Não teria conseguido nunca ir atrás dos meus sonhos com confiança.
     É óbivo e comprovado que os problemas actuais com que se depara a nossa juventude quanto à educação são ideológicos e sistémicos. Há também barreiras sócio-económicas. No entanto, eu acredito que há uma velha guarda na nossa cultura que precisamos de agitar de forma intencional e consciente.
     Como jovem, tive a sorte de adoptar uma identidade pessoal que era “pan-étnica”, que me fez sentir vinculada a muitos outros companheiros de primeira geração
e não apenas à comunidade portuguesa. Isso salvou-me e eu nunca senti que fosse só portuguesa ou só canadiana. Senti-me como se fizesse parte de uma identidade nova e mais evoluída, pertencente a um mundo maior, o que foi fundamental para eu encontrar a minha própria voz.
     Enquanto crescia, frequentava a minha comunidade católica, mas tinha também a mente aberta para explorar outras religiões, identidades e culturas, incluindo o Budismo, Hinduismo, Presbiterianismo, Espiritualismo, Taoísmo, Sufismo e, além disso, recusei-me a acreditar que ser português significava ser Católico, ou que ser português significava ser heterossexual ou pertencer a uma “família tradicional” ou a um “estilo de vida tradicional”.
     Ao longo da minha vida, escolhi não me “engaiolar” em caixas nem rótulos da minha cultura luso-canadiana. Basta recordar que para o Canadá foi importada uma cultura portuguesa abafada, que ficou a levedar por algum tempo enquanto Portugal experimentava uma revolução e uma verdadeira mudança.
     De um modo geral, vamos admitir que a nossa cultura portuguesa por vezes continua circunscrita ao receio ancestral de ser ostracizada por ser diferente. A nossa cultura nem sempre valoriza a individualidade. A nossa cultura continua a sofrer de preconceitos de género. Todos estes males podem criar uma pobreza mental nos jovens, o que é extremamente difícil de ultrapassar.
     Precisamos de afastar as generalizações do passado acerca da nossa cultura para bem da nossa juventude. Não devemos estar limitados pela religião, género, sexualidade, raça, ou estilo de vida. As nossas portas precisam de ser plenamente abertas às oportunidades. Pontos de vista inflexíveis sobre como ser “um verdadeiro” português só nos limitarão nas nossas realizações.
     Devemos concentrar-nos no que nos faz únicos e entregar-nos àquela que acredito ser a nossa verdadeira natureza –criatividade desenfreada, aventura, paixão, engenho. Estes são os ingredientes de um sentido de identidade genuíno, poderoso e multifacetado – não uma identidade limitada por categorias de antiguidade .
     No outono passado, fui condecorada com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, por Sua Excelência, o Presidente da República de Portugal. Foi uma honra actuar nessa noite, cantando em português com António Zambujo. Quando estive naquele palco tive uma intuição de um outro mundo que me penetrou até ao fundo dos ossos. Foi um momento pessoal de reflexão porque inteirei-me de que ser portuguesa fazia-me verdadeiramente ser quem era.
    Nunca quererei ser mais nada. É tão reconfortante saber que 600 anos da minha geneologia podem ser todos delineados em São Miguel. É a minha casa espiritual e tenho tido o prazer de transmitir este vínculo à minha filha que todos os anos, desde que nasceu, visita São Miguel. É algo que me tem dado imensa inspiração. O meu avô, quando tocava as suas marchas, falava da profundidade das almas dos músicos que vieram antes dele para a ilha. Ele falava comigo e continua a falar, e deixou-me uma herança musical, de que estou muito orgulhosa e grata.
     Vamos fazer desta noite o futuro. Vamos suspender o nosso julgamento e aceitar com amor e compaixão todos os luso-descendentes, não apenas neste país, mas na nossa diáspora de todo o mundo. Somos todos LUSO, somos todos portugueses, e devemos todos querer viver com o mesmo espírito destemido dos nossos àntepassados.
     Vamos derrubar as paredes que nos separam e tornarmo-nos mais fortes, melhores e, por fim, mais audazes. Porque, como todos sabemos, o futuro pertence aos audazes. 

     Obrigada,

    Nelly Furtado
IMAGE: Camoes Radio
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