Muitos foram os açorianos que, há muito tempo, me falavam sobre as belezas desta “ilha de cabelos verdes e de corpo alto” como cantou o poeta Carlos Faria e outras tantas histórias eu ouvira contadas em muitos serões pelos amigos Onésimo T.Almeida, Urbano Bettencourt e o pintor Seixas Peixoto,ambos enamorados desta Ilha esparramada no Atlântico a espiar o Pico, Faial, a Terceira e de quebra a Graciosa.
Também não me contive e numa das muitas andanças pelos Caminhos do Divino nos Açores fui conhecer a Ilha de São Jorge. O abre-alas para a visita não foi Raul Brandão e sim Onésimo T.Almeida com seu Prosema ao Karlos Faria ou São Jorge (Onze Prosemas e um final merencório,2004:25).
Levava um nome como recomendação Frederico Maciel, “ele há de te contar tudo que queres saber”.
Assim, com a curiosidade aguçada por tantas histórias e passagens ali vivenciadas por estes amigos e outros mais como os poetas Eduardo Bettencourt Pinto e Aurora Carvalho Homem, cheguei na Vila das Velas numa belíssima manhã de junho de 2005, depois de uma deliciosa travessia em companhia do pintor Seixas Peixoto,a mulher Cristina e os filhos.
No cais, a figura simpática e sorridente de Frederico Maciel, aguardava paciente vendo o barco atracar num bailado de ir e vir. Eu nem desembarcara e já ficara cativa daquele verde todo que me abraçava, do mar azul cobalto guardado no recôncavo da baía, daquele rumor de festa que pairava no ar,do casario branco esgueirando morro acima, ruas com graciosas floreiras suspensas e o rendado das fajãs de indescritível beleza.
Frederico Maciel, boa gente, anfitrião compenetrado, amigo de primeira hora e de agora. Levou-me por toda parte, sempre falando das coisas de sua Ilha, dos costumes, da sua gente e de suas crenças.
Eu estava ali pelo Espírito Santo e ele me fez penetrar na mítica do Divino, das Mordomias, dos Imperadores, da cozedura dos tremoços, rosquilhas de aguardente, rosquilhas brancas, do vinho de cheiros,dos queijos,dos doces de espécie,das massas sovadas e os bolos de vésperas. Tudo vi e experimentei.
Viramos a Ilha de ponta cabeça, isto é, quase toda. Logo, entendi a sua geografia muito comprida e muitíssimo estreita e fez todo o sentido a história que ouvira do Onésimo sobre aquele sujeito do continente na Ilha a correr pela rua abaixo e o jorgense a perguntar matreiro: “Para onde é que o sô vai co’essa pressa toda? A Ilha acaba já aí!”
Frederico Maciel foi incansável a contar e recontar histórias com imenso carinho e atenção, a ressaltar as características distintas de celebrar o Espírito Santo na mítica Ilha de São Jorge.
Foi a ouvir histórias que conheci este jorgense ali nascido,num 25 de outubro.
Fez seus estudos em Ponta Delgada (S.Miguel) e Angra do Heroísmo (Terceira).
Atuante na vida política foi Deputado Regional, Presidente da Câmara das Velas e é atualmente o Provedor da Misericórdia das Velas onde realiza uma administração dinâmica de aproximação da Santa Casa com a comunidade. O que não causa espanto, pois Frederico é um homem inteiramente dedicado a sua Ilha de São Jorge, um homem apaixonado por sua comunidade.
Frederico é a voz de São Jorge, das Velas, da Misericórdia.
Fundador proprietário e diretor da revista histórico-cultural “O Jorgense” e do jornal “Correio de S.Jorge” onde além de escrever, edita e até dobra como gosta de dizer. É o faz tudo do seu jornal. Mantém um programa radiofônico com comentários sobre políticas públicas que afetam a Ilha seja pelo positivo, seja pelo negativo.
Da sua produção literária cita-se: “Misericordia das Velas,Provedores, Factos e Documentos (2007); “Urzelina Minha Lira“ e é co-autor de: “José Soares o Canto de um Lavrador”
Se constituiu um prazer imenso conhecê-lo, maior prazer é tê-lo como um amigo inestimável.
Florianópolis,6 de junho de 2009
Ilha de Santa Catarina