O Calendário de Kathie

“Querida Lélia. Muito prazer em conhecê-la nos Congressos em PDL em maio!” A mensagem afetuosa e gentil acompanhava o presente inusitado para mim – um calendário de 2009 recheado de imagens dos Açores desde São Miguel até a freguesia da Calheta em São Jorge.
Um calendário de imagens com lembranças de viagens ou um registro documental? O nome pouco importa. O que vale é a mensagem contida em cada mês e para todo ano. Um Congresso em Ponta Delgada acontecido em maio de 2008, uma visita a Angra do Heroísmo à busca de suas raízes na Biblioteca Pública, a passagem pelos arquivos da Horta atrás de sua genealogia familiar e a visita aos primos Noronha na Ilha de São Jorge. Está tudo ali como um diário de bordo. Fotos do convívio familiar e outras dedicadas aos colegas e amigos ao longo do ano de 2008.
Em 2010, outro calendário –“Do mar ao mar brilhando” com mais imagens desde o deambular por Ilhas e pelo mundo Ilhas do Canadá – o Dia dos Açores; da Califórnia – apresentação do livro The Portuguese Presence in California do professor Eduardo Mayone Dias, com tradução da Kathie, de Dr.Bobby J. Chamberlain e
  de Diniz Borges; de São Miguel – Encontro Escritas Dispersas: convergência de afectos, de São Jorge –Velas e Calheta, da Terceira –Angra do Heroísmo. Imagens igualmente afetuosas e de significado para todos nós.
Com a chegada do ano de 2010, a tendência era rasgar o ano velho e meter o novo em uso. E quem diz que consegui me desfazer do rabiscado 2009, com todas aquelas fotos e caras queridas? Nem pensar! Recortei cada mês e criei um arquivo de imagens do “Calendário da Kathie”.
Estamos em fins de março de 2011 e, na minha mesa de trabalho, repousa o inseparável calendário – “Em busca de viagens perdidas” de Kathie e John Baker de Monroeville, Pensilvânia, EUA. Desta feita, dedicado às belezas naturais dos Açores e ao convívio da comunidade açoriana da Décima Ilha – a Califórnia. Novamente, a partilha de imagens que sabem bem ao coração. Imagens suas, de sua história pessoal, imagens nossas.
Confesso que fiquei muito surpresa com a iniciativa do casal Baker, não que fosse uma novidade. Afinal, circula por aí todos os tipos de calendários, desde os nada recatados, como o famoso Calendário Pirelli que desde 1964 mostra a beleza feminina desnudada a partir das lentes dos maiores fotógrafos do mundo, enfeitando as oficinas mecânicas de alhures até os santificados em nome do Coração de Jesus e de Maria abençoando lares e famílias. Sem contar, os familiares e de empresas que em doze meses narram a sua saga ou colocam na vitrine os seus produtos.
Como diz o ilhéu Catarina “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Pois, o “Calendário da Kathie” faz a diferença. Não é um amontoado de fotos para recordar, apreciar ou estimular a venda de um produto marcando dias e meses e o ano avançando… Nada disso. O “seu calendário” é testemunho de vida, retrato de família. É um registro documental precioso formado por uma coleção de imagens cuidadosamente reunidas para este fim. Imagens poéticas que não precisam ser traduzidas em palavras porque falam por si.
Constitui uma generosa coleção de fotos, um álbum de recordações suas e de seus amigos, mundivivências. Imagens tão pessoais a retratar e partilhar a trajetória da procura das origens de Katharine F.Baker , mulher açor-descendente, professora, tradutora, residente nos Estados Unidos e que esconde no passaporte sua verdadeira identidade – a alma açoriana.
No Calendário da Kathie, numa linguagem visual e de afetos múltiplos, encontrei a alma demarcada como nos versos de Semy Braga, também ele uma alma viajante: “Encontrei a alma.Demarcada – insular. Na imaginação um horizonte de águas desenhando a dança”.
Obrigada Kathie!