PorqueHojeEhSábado
2013-11-16
O ceu de perola velado,
O ar immovel. Mas, olhae-o,
Não de terror paralysado,
Mas desmaiado, e extasiado
Na suavidade do seu desmaio.
O ar immovel. Mas, olhae-o,
Não de terror paralysado,
Mas desmaiado, e extasiado
Na suavidade do seu desmaio.
Em mysteriosa nostalgia
Voluptuosa a manhã nada…
Oh! A ineffavel letargia,
A celeste melancholia
Da luz por perolas coada!
Reveste os longes a neblina,
D’um veu diaphano de opala.
Manhã dormente, manhã divina…
Numa monotona surdina
A voz do mar embala… embala…
Argentinas as horas sôam,
E, numa tremula vibrancia,
Lentas, saudosas, abençoam
Estas horas que mansas vôam
Para os nevoeiros da distancia…
E, com doçuras de alaude,
Diz esta voz que se extasia:
«Nada desperte, nada mude…
«Que mais celeste beatitude,
«Que esta celeste melancolia?
Carlos de Mesquita,
In Ave Azul, 1ª série, nº 2, 15 de Fev., Viseu, 1899.
In Ave Azul, 1ª série, nº 2, 15 de Fev., Viseu, 1899.
Carlos Fernando de Mesquita (1870-1916) professor, natural da vila de Santa Cruz, ilha das Flores, residiu e trabalhou nas cidades da Viseu e Coimbra onde veio a falecer.