Natural de Torre de Dona Chama, Portugal, Ernesto Rodrigues é um dos grandes expoentes do panorama literário português da atualidade. Um nome referenciado no continente europeu e também na América e no Brasil onde é com frequência convidado por universidades do norte ao sul do País. É Doutor em Letras pela Universidade de Lisboa (1996), na especialidade de Cultura Portuguesa. Licenciado em Filologia Românica (1980) e Mestre em Literatura Portuguesa Clássica (1991) pela Faculdade de Letras de Lisboa, onde é Professor Auxiliar, foi antigo jornalista (1979-1981), leitor de Português na Universidade de Budapeste (1981-1986) e assistente da Escola Superior de Educação de Bragança (1986-1988). Escritor e jornalista – dois caminhos unificados na tese de doutoramento: Mágico Folhetim. Literatura e Jornalismo em Portugal (1996; em livro, 1998).
Crítico literário destacado por sua competência e elegância na apreciação de uma obra, no exame acurado do discurso literário criativo. Sua palavra flana por todas os gêneros e sua voz se faz ouvir de forma admirável e intensa na colaboração poética, contística e ensaística em, nomeadamente: Világirodalmi Lexikon [Dicionário de Literatura Mundial; Hungria], Biblos. Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa (Lisboa, I, 1995; II, 1997; III, 1999; IV, 2005), Dicionário do Romantismo Literário Português (Lisboa, 1997), Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura (Edição Séc. XXI), Dicionário de Literatura (dir. de Jacinto Prado Coelho, sendo coordenador de Literatura Portuguesa e Estilística Literária, nos 3 vols. de Actualização, Porto, 2002-2003), e nas seguintes publicações, entre outras: Acta Litteraria Academiae Scientiarum (Budapeste), Amigos de Bragança, Boca do Inferno, Brigantia, Cadernos Aquilinianos, Camões, Colóquio/Letras, Diário de Lisboa, Diário de Notícias, Diário Popular, Domus, Europeu, JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, Ler, O Liberal, Revista da Faculdade de Letras (de Lisboa), Românica, Tempo, Vária Escrita, Vértice. Desde 2000, é presença regular no Expresso.
Seus textos como faróis do saber sinalizam o caminho da descoberta, do desvendar o que está por trás do véu, do espectador da vida que se esvai, do criador que encanta a criatura e ao mesmo investiga seus enigmas como o jornalista à descoberta do que está por trás do fato. Aí está o escritor e o jornalista face to face na aventura do encontro e na cumplicidade dos sentimentos.Se deixa levar por trilhas do imaginário,liberto sem amarras,nem controles sejam racionais ou apenas aquele que emerge na interação social do cotidiano,por mundivivências desde a sua Lisboa até a outros mundos do universo europeu como a Hungria onde viveu. Estudioso das relações entre Portugal e a Hungria, traduziu várias obras de ficção e poesia húngaras, sendo agraciado pelo Estado húngaro, dedicou-se ao estudo da Identidade centrada na diversidade, relações familiares e conflitos da atualidade
Ernesto Rodrigues é criador e espectador, conduz e se deixa conduzir por um labirinto de palavras, espelho surrealista de experiências vividas e partilhadas na poesia,na prosa, na crítica, no ensaío, no jornalismo, na crónica, no memorialismo, na dramaturgia e no magistério. Uma personalidade ímpar,multifacetada.
Poeta estreado em 1973, editou Inconvencional, J. C. Falhou Um Penalty (em colaboração, 1976), Poemas Porventura (1977), Março ou as Primeiras Mãos (em colab., 1981), Para Ortense: Variantes (1981), Sobre o Danúbio (1985), Ilhas Novas (1998), estando, ainda, presente numa dezena de colectâneas.
Na ficção, e afora antologias, deu Várias Bulhas e Algumas Vítimas (1980), novela reeditada em A Flor e a Morte (1983), seguindo-se os romances A Serpente de Bronze (1989) e Torre de Dona Chama (1994). Dirigidas à infância, escreveu Histórias para Acordar (1996), com ilustrações de Célia Rodrigues e Lídia Rodrigues.
Edição bilingue de poesia e prosa saiu em Budapeste com o título Sobre o Danúbio/A Duna Partján (1996). Título também miscelanear, acrescido de ensaísmo, é Pátria Breve (2001).
Vem prefaciando edições, que organiza, de Oitocentistas: Eça de Queiroz, A Catástrofe e Outros Contos (Lisboa, Ulisseia, 1986); Ramalho Ortigão, Farpas Escolhidas (Ulisseia, 1991) e As Farpas, 11 tomos (Lisboa, Círculo de Leitores / Barcelona, RBA, 2006); Alexandre Herculano, O Bobo (Ulisseia, 1992); Camilo Castelo Branco, Eusébio Macário (Ulisseia, 1992), A Corja (Ulisseia, 2000), A Queda Dum Anjo (Porto, Edições Caixotim, 2001), Anátema (Caixotim, 2003), Obras Completas de Camilo Castelo Branco – I (em 15 vols.; prefácio; Barcelona, RBA), 2005, Poesia (Caixotim, 2006); Júlio Dinis, Os Fidalgos da Casa Mourisca (Ulisseia, 1994). Alguns desses trabalhos prefaciais integram Cultura Literária Oitocentista (Porto, Lello Editores, 1999).
Prefaciou também, entre outros, Hélia Correia/Jaime Rocha, A Pequena Morte/Esse Eterno Canto (Lisboa, Black Sun Editores, 1986); Clara Pinto Correia/Mário de Carvalho, E Se Tivesse a Bondade de Me Dizer Porquê? (Lisboa, Relógio d’Água, 1996); João Pedro de Andrade, Ambições e Limites do Neo-Realismo Português (Lisboa, Acontecimento, 2002).
Editou, igualmente, A Madárember (O Homem Pássaro, Budapeste, Íbisz, 2000), antologia do moderno conto português; e Augusto Moreno, Poesias (Bragança/Freixo de Espada à Cinta, Câmara Municipal, 2002).
No ensaísmo, deu, ainda, Mágico Folhetim. Literatura e Jornalismo em Portugal (Lisboa, Editorial Notícias, 1998), Visão dos Tempos. Os Óculos na Cultura Portuguesa (Lisboa, Optivisão, 2000) e Verso e Prosa de Novecentos (Lisboa, Instituto Piaget, 2000). Crónica Jornalística. Século XIX (Lisboa, Círculo de Leitores, 2004) reúne, após longa introdução, 64 textos de 1827 a 1900.
Tradutor de ficção e poesia húngaras, e estudioso das relações entre os dois países – por que foi agraciado pelo Estado húngaro (1983, 1989, 2002) -, cabe referir: István Örkény, Contos de Um Minuto, 1983; Novíssima Poesia Húngara, 1985, ambos em Lisboa, Bico d’Obra; Péter Zirkuli, O Instante Luminoso, trad. colectiva [Casa de Mateus, 1995], Lisboa, Quetzal, 1997; PortugalHungria, em colab., Budapeste, 1999; Petõfi Sándor, Vinte Poemas, edição bilingue, Lisboa, 1999; responsável pela lírica húngara em Rosa do Mundo – 2001 Poemas para o Futuro, Lisboa, Assírio & Alvim, 2001; Antologia da Poesia Húngara, Lisboa, Âncora Editora, 2002; Imre Kertész, Sem Destino, 2003; A Recusa, 2003; Kaddish para Uma Criança Que não Vai Nascer, 2004, em Lisboa, Presença; e Aniquilação, Lisboa, Ulisseia, 2003. No prelo, está, deste Prémio Nobel de Literatura 2002, Um Outro. Crónica de Uma Metamorfose. Já em 2006, sairam, nas Publicações Dom Quixote, Dezsõ Kosztolányi, Cotovia; Magda Szabó, A Porta. A Corte Luso-Brasileira no Jornalismo Português (1807-1821), edição de Ernesto Rodrigues, Lisboa, 2008.
Uma grandiosa produção literária onde transparece histórias de vida,universos do reencontro do escritor e do leitor. Um patrimônio espiritual
em mais de 38 anos de escrita.
“Perfiz umas cinco mil páginas, maioritariamente inéditas, que seria bom reunir: poesia, teatro, crónica, diário, ficção (contos, novelas, romances), ensaios de literatura e cultura, de incidência nacional e sobre estrangeiros. Não cabem, aí, edições de clássicos e traduções. (…)tacteio nas primeiras páginas de um romance. A pouco e pouco, sem abandonar a investigação – coordeno equipa que estuda as repercussões na nossa Imprensa (1807-1822) da presença da Corte portuguesa no Rio de Janeiro –, interessa-me transitar docemente para o que me cumula deveras: a criação literária”. (em entrevista ao Jornal Nordeste, abril/2007)
Por último cabe registrar que conheci o escritor Ernesto Rodrigues em Florianópolis exatamente no dia 6 de setembro de 2006, há três anos atrás, por intermédio da amiga escritora Teresa Martins Marques. Ambos retornavam do Rio Grande do Sul depois de uma série de conferências como convidados da PUCRGS e UFRGS. Na Ilha de Santa Catarina o casal de amigos assistiu de perto uma das mais tradicionais Festa do Espírito Santo da Ilha de Santa Catarina: a Festa do Divino de Santo Antônio de Lisboa
que no dia de hoje realiza a Missa da Coroação. Naquela “divina” manhã, em frente à Igreja de Nossa Senhora das Necessidades,Teresa Martins Marques me apresentou,via móvel, à Maria Lúcia Vasconcelos,a notável fotógrafa. Nada na vida é por acaso!
Legenda/crédito foto:Rio de Janeiro,2006, Teresa M.Marques
Lélia Pereira da Silva Nunes
Florianópolis, 6 de setembro de 2009