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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de O fazedor de amanhecer —
       Manoel de Barros
Comunidades 30 nov, 2014, 04:41

O fazedor de amanhecer — Manoel de Barros



Após longa dedicação ao encantamento de palavras e à administração do inútil, o poeta mato-grossense Manoel de Barros abriu as asas e voou para o território da imaginação.

Transformou-se, quem sabe, num tuiuiú — ou, como ele escreveu certa vez, tu-you-you, um pássaro cheio de pronomes.

Lá se foi o poeta, aos 97 anos de meninice."

Carlos Machado
   Poesia.net


Volpi, Itanhaém

[A MAIOR RIQUEZA]

A maior riqueza do homem é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre
portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que
compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora,
que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

[De Retrato do Artista Quando Coisa, 1998]

[O SENTIDO NORMAL DAS PALAVRAS]

O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa liberdade com a luxúria convém.

[De O Guardador de Águas, 1989]

[AS COISAS QUE NÃO TÊM DIMENSÕES]

(trecho)

As coisas que não têm dimensões são muito importantes.
Assim, o pássaro tu-you-you é mais importante por seus
pronomes do que por seu tamanho de crescer.

É no ínfimo que eu vejo a exuberância.

[De Livro Sobre Nada, 1996]

A LÍNGUA MÃE

Não sinto o mesmo gosto nas palavras:
oiseau e pássaro.
Embora elas tenham o mesmo sentido.
Será pelo gosto que vem de mãe? de língua mãe?
Seria porque eu não tenha amor pela língua
de Flaubert?

Mas eu tenho.
(Faço este registro porque tenho a estupefação
de não sentir com a mesma riqueza as
palavras oiseau e pássaro)
Penso que seja porque a palavra pássaro em
mim repercute a infância
E oiseau não repercute.
Penso que a palavra pássaro carrega até hoje
nela o menino que ia de tarde pra
debaixo das árvores a ouvir os pássaros.
Nas folhas daquelas árvores não tinha oiseaux
Só tinha pássaros.
E o que me ocorre sobre língua mãe.

[De O Fazedor de Amanhecer, 2001]

POEMA

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.

[De Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo, 2001]

O fazedor de amanhecer --
       Manoel de Barros

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