[O menino que rola o arco]
O menino que rola o arco
Já o rolava antes
Meu irmão das cavernas
Tu que não sabias
Perdeste o medo
E fizeste uma teoria
Mas quem te criou assim único?
[Varanda da minha infância]
Varanda da minha infância
Cidade feliz
De teus ócios merecidos
Chegou o fim amargo
Do meu último olhar
Vejo enfim as calmas areias quentes
Os fetos das fontes que o tempo secou
O fundo poço que sou e é velho e é triste
Nada muda o destino deste parado barco
O mar dorme em paz e sossego
A terra mostra ao sol os seios preguiçosos
As mulheres espreitam arrepiadas às janelas
Do caminho sobem ao céu súbitas nuvens de poeira
Tudo é divino à luz dourada dourado
Só eu sou levado de mim e me perco
DaCosta,
A cal dos muros,
Assírio e Alvim, Lisboa, 1994.