Lélia Nunes apresenta Diniz Borges:
É com grande prazer que tenho o privilégio de trazer a palavra do meu amigo e um dos grandes nomes da comunidade portuguesa na América: DINIZ BORGES. Açoriano,nascido na Ilha Terceira, vive em Tulare, California.É professor de Portugues, Diretor do Institute for Azorean-American Studies e escritor com uma consistente produção literária. Promoveu a edição de On a Leaf of Blue (2003), antologia bilingue de poesia açoriana contemporânea, por cuja tradução foi igualmente responsável. Coordenou por 12 anos o Simpósio "Filamentos da Herança Atlântica" reunindo na cidade de Tulare as mais expressivas vozes e letras açor-americanas. Incansável na divulgação de autores açorianos e luso-descendentes na América e Portugal, especialmente na Maré Cheia, a página de Artes e Letras que coordena no PortugueseTribune.
Um ser humano muito especial,uma escrita admirável comprometida com o futuro das comunidades açorianas da Diáspora.
Sobretudo, Diniz Borges é um homem de comunidade, atuando por muitos anos como Conselheiro das Comunidades Portuguesas. Defendeu e defende o diálogo plural entre as comunidades da diáspora e os Açores. As comunidades nos States, particularmente na Califórnia, estão a mudar a passos largos. É preciso estar atento a este inexorável processo de mudança.
Diniz Borges está. E é de Tulare, a sua terra californiana, que ele se faz ouvir. Uma voz forte,coerente com seus valores e princípios, às vezes rebelde, mas sempre respeitada e admirada.
Lélia Nunes
Com a Palavra…
Diniz Borges
O Secretário de Estado da Educação, Jorge Pedreira (acompanhado do seu chefe de gabinete, Vasco Alves) acabou de visitar algumas comunidades luso-americanas da Califórnia. .
E esta foi uma visita dissemelhante! Planeada localmente, sem interferências da diplomacia portuguesa (a qual por vezes, como dizia minha avó-só atrapalha), tivemos sim, uma visita de serviço. Houve uma reunião com o director das escolas secundárias de Tulare, uma visita de trabalho às escolas, um encontro com os directores de cada escola, uma passagem por uma sala de aula onde se lecciona a língua e a cultura portuguesas, um encontro com a escola comunitária Vitorino Nemésio do CPEC e a participação num evento da escola secundária-o academic night-onde o Secretário de Estado e a Coordenadora do Ensino entregaram os certificados aos alunos que completaram 4 anos de língua e cultura portuguesas. Evento esse, que faz parte das celebrações do fim do ano lectivo nas escolas secundárias americanas, e o qual foi participado por centenas de alunos e seus pais. Para tristeza de algumas pessoas não houve nem almoços nem jantares imponentes com longos discursos e medalhas de mérito. Aliás, o almoço foi com alunos, com professores e pais de alunos e o jantar com líderes comunitários ligados ao ensino da língua e cultura portuguesas.
Foi uma visita de conhecimento, de diálogo e de trabalho. Melhor, foi uma visita inovadora, porque passou-se do gueto comunitário para o mainstream. Tão mainstream que foi manchete de primeira página no jornal americano local.
O Secretário de Estado da Educação pôde ainda verificar a metamorfose que ocorre nas comunidades, porque foi-lhe apresentado um trabalho de pesquisa, feito nas escolas de Tulare nos últimos quatro anos, com o apoio do Instituto de Estudos Açor-Americanos que mostra, clara e inequivocamente, que as comunidades estão a mudar e que as políticas e as linguagens utilizadas no passado têm que ser ajustadas, que as novas pontes para a preservação e divulgação da língua e cultura portuguesas (trabalho que não reside, como se sabe, só nas escolas, nas instituições de ensino, mas em todos os segmentos das comunidades) não podem ser construídas com líderes comunitários especializados em guetos, com pseudo dirigentes das nossas comunidades doutorados em arrogância, baptizados em cocktails e portos de honra, especialistas em visitas circunstanciais porque lhes dá direito a foto nos jornais e uns minutos de glória nas televisões regionais, antiquados em pensamento e acção, vestígios doutro tempo e doutra comunidade. As comunidades da Califórnia são outras, muito mais do que por vezes pensamos que elas são, e estão por aí cheias de encantos e desencantos, muitos por descortinar.