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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de O Rio de Janeiro  de CECILIA MEIRELES para ARMANDO
CÔRTES-RODRIGUES ***
CELESTINO SACHET  (1/2)
Comunidades 20 mar, 2011, 19:12

O Rio de Janeiro de CECILIA MEIRELES para ARMANDO CÔRTES-RODRIGUES *** CELESTINO SACHET (1/2)


Entre 1946 (1) e 1964(2) Cecilia Meireles alimentou intensa
troca de correspondência(3) com o poeta açoriano Armando
Cortes-Rodrigues (4 ).
Dentre as centenas de páginas encaminhadas para Ponta
Delgada, ilha de São Miguel, têm especial interesse um
grupo de doze cartões postais, em preto e branco, com as
mais conhecidas paisagens do Rio de Janeiro, despachadas
ao Amigo, em 7 de abril de 1946 (5) .
No verso de cada um deles, Cecilia Meireles reconstrói
o cenário com um texto poético no qual Paisagem e Autora
se confundem, se integram, se transformam.
Organizados em seqüência, do geral para o particular,
os doze tetos abrem a descrição com o Cristo Redentor, a
floresta da Tijuca, o Pão de Açucar; seguem com o bondinho
da Urca, a Pedra do Leme, a praia de Copacabana, a cidade
vista do mar.
Concluem com o que a Poeta chama "meu enamoramento:
NUVENS" e com um passeio pela avenida Rio Branco.

               
                            
                                      *********
Dentro das celebrações de 120 anos do nascimento do poeta Armando Côrtes-Rodrigues e com a devida permissão do escritor e professor catarinense, Celestino Sachet, reproduzimos (em duas partes)o artigo acima referenciado e que foi originalmente publicado em 1991 na revista TRAVESSIAS do Programa de Pós Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Brasil.          

Rio, 7 de abril de 1946.

Armando Cortez-Rodriguez:
Descobri que na semana próxima há um barco p. Portugal,
e ocorreu-me enviar-lhe uns postais que lhe darão algumas impressões desta cidade tumultuosa. Como desconfio tanto do correio, vou mandá-los em diferentes envelopes,e expedi-los em diversas agências postais, para, no caso de se perderem não ser uma perda completa.
Apesar de todo o meu hábito de desnecessidades, é um pouco melancólico mandar-se para longe alguma coisa, com tanto interesse em mandá-la, e sempre ter-se a apreensão de que não chegue.
Neste postal vai a imagem — que domina toda a cidade
— do Cristo, no alto do Corvocado(6).
Na vertente a seus pés, entre esse pico e a baía, — que vai indicada ã margem,– em pequena altitude, a nossa casa. Quando se olha em redor, não se avista mais do que montanha e floresta.Há umas edificações novas, perto, mas não pesam na paisagem.
E há coisas longe — o mar, os navios… — que ninguém
vê senão eu.

2
A grande altura, perto das matas da Tijuca, nossa irmã
Ãgua(7) deixa-se cair assim pelas pedras. Pensar que noite e dia ali cai, sozinha, por esse gosto lírico de perderse,de obedecer às suas Leis, de desfazer-se toda para de novo se recuperar. E como poderá saber que se recupera?(E romper-se?).
A floresta é uma alucinação, com sombras, perfumes,
aconchegos, pássaros, alguma serpente repentina, e essas vozes fantásticas, multiplicadas em pequeninos, vibrantes,atordoantes cios.
No meio disso, a água límpida, com seu choro transparente é uma pureza, uma liberdade, — é a trangdilidade de passar — isenta — sem os cativeiros intrincados da terra.
Quantas coisas lhe quereria dizer sobre a Agua — e
tudo o que dizemos são letras de espuma, letras de espuma no mar…

3
Depois do Corcovado, o Pão de Açúcar é o outro ponto
de turismo a atrair binóculos e máquinas fotográficas.(Afinal,parece que lhe estou a escrever um guia da cidade. E é bem possível que me escorregue a pena, e comece a dissertar sobre altitudes e preços de passagem!)
Este Pão de Açúcar é tão engenhoso que, pela conformação
do Rio, de muitos lugares pode ser visto, e sempre de
maneira diferente. Além disso, quase todos os morros da cidade têm essa mesma forma cónica. De sorte que um inglês,que por aqui passou há tempos, escreveu uma página interessante discutindo se havia muitos Pães de Açúcar ou se o único existente era móvel e flutuante.
Essa idéia de mobilidade e de flutuação seria muito
útil se a pudesem aplicar à Ilha de São Miguel, por exemplo.
Escusava mandar-lhe estas vistas, imperfeitas: e, para
retribuir os cumprimentos, dir-lhe-ei que, se olhasse para ela, a cidade, sem dúvidas, ficaria muito mais bonita do que a dizem, — uma vez que a digam muito mais do que eu a encontro.

4
Aquele Pão de Açúcar que noutro postal lhe apareceu
tão tranqüilo “posto em sossego” nas águas da baía de Guanabara,tem a amarrá-lo ao monte mais baixo — o da Urca,que naquele postal se vê — uns grossos cabos por onde deslisa este carrinho que é o prazer dos provincianos, dos noivos e dos turistas profissionais ou amadores.
Em poucos minutos e com toda a segurança (é muito dizer-lho, como cicerone…)se sobe da terra firme ao primeiro monte, e, depois,deste ao segundo, de onde, nas horas claras, se avista o mar, com suas ilhas, seus faróis e os bairros que as circundam.
Isso e a travessia aérea constituem o encanto
do passeio, geograficamente falando. A parte da engenharia é horrorosa, com seus cimentos escalvados. E havia um bar,onde se jantava lá no alto, mas creio que acabou, e apenas se poderá tomar agora um desses refrescos pavorosos que nunca faltam nesses lugares, e comprar cigarros por preços fabulosos, como também é de norma acontecer…

5
O inglês a que me referi, seria capaz de jurar que este
monte era também o Pão de Açúcar. Mas não: é coisa muito
diversa. Fica por detrás dele, já fora da baía, defrontando o oceano. É a Pedra do Leme. Lá onde quis colocar um elegante ponto, e saiu um borrão de tinta, lá morávamos nós.
(Mas este postal já é um pouco antigo, pois tem-se construído tanto arranha-céu que a paisagem envelhece de mês para mês.)
Por detrás dessa Pedra nasciam para mim o sol e a lua
— e entre essa Pedra e a areia teciam as névoas aquelas
brancuras cegas de que fala algum poema.
Anos e anos vivi com esse mar que é quase sempre furioso,nesse trecho. Raro o domingo sem banhistas mortos.Tudo triste e belo, como V. sabe que são as coisas do mar.
Tenho uma saudade grande do apartamento: mas está cedido
por dois anos! — e os turistas e a vida banal e fútil
dos toldos de lona e dos trajes de banho tornavam a praia muito desgraçada.

6
“Por sobre as ondas trangtilas
Fez uma estrada o luar
Por onde vai o meu sonho
Quando se põe a sonhar.
Lindo caminho de luz,
Poeira que do céu cai,
Rasto de tanta ilusão
Que ninguém sabe onde vai.
Rumo das algas levado
Por onde a vaga se espraia,
Nuvem branca na distância,
Espuma leva na praia.
1Sulco aberto pelas quilhas
Logo em breve se fechou:
E ninguém sabe quem passa,
Nem sequer onde passou.
Sob o pio olhar da lua
– Choram estrelas de mágoa –
Só a esperança perdida
A boiar à tona da água”.
Gosta?

(*) Sobre o autor Celestino Sachet:

O escritor e professor Celestino Sachet é catarinense, de Nova Veneza. Sachet é reconhecido pelas pesquisas na literatura e pelos inúmeros livros didáticos de Língua Portuguesa. É professor do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas do Centro de Comunicação e Expressão da USFC (aposentado). Participou do Grupo Sul. Integra a Academia Catarinense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico. Exerceu também o papel de crítico literário. Lecionou também na UDESC, onde exerceu o cargo de Reitor.Pesquisador do CNPq. Possui o título de Professor Emérito da UFSC.Para além,Celestino Sachet é uma das mais respeitadas personalidades da educação catarinense tendo contribuído muito para o desenvolvimento do ensino superior no Brasil. Ao lado de nomes como Osvaldo Ferreira de Melo,Walter Fernando Piazza contribuiu para a aproximação e fortalecimento de laços entre os Açores e Santa Ctarina.

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