Obra Completa do Pde. António Vieira: “odisseia” termina na Póvoa de Varzim
O Vice-Presidente e Vereador da Cultura da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Luís Diamantino, deu as boas vindas ao público e aos convidados do Correntes d’Escritas 2015, por ocasião da apresentação da Obra Completa do Pde. António Vieira (edição Círculo de Leitores), na quarta-feira, dia 25, às 17h00, no Cine-Teatro Garrett.
José Carlos Vasconcelos foi o moderador desta sessão em que foi apresentada uma obra monumental, histórica e única na História da Literatura Portuguesa. Coube-lhe apresentar os autores desta odisseia: José Eduardo Franco, Pedro Calafate (neto da personalidade poveira Vasques Calafate), coordenadores da obra e João Francisco Marques (veja fotogaleria).
Os 30 volumes que compõem a Obra Completa do Pde. António Vieira foram editados ao longo de cerca de dois anos pelo CL, fruto de uma “coragem imensa” de José Eduardo Franco, que é um grande lutador e que conseguiu algo admirável: primeiro, conseguiu arranjar os meios financeiros e logísticos para publicar a obra; em segundo lugar, concretizou um trabalho científico de elevada qualidade. De referir que a obra foi publicada, em simultâneo, no Brasil.
Na sua intervenção, Pedro Calafate enalteceu a “enorme capacidade de trabalho de José Eduardo Franco e a possibilidade que este empreendimento lhe deu de trabalhar de perto com o Padre João Marques, que teve muita importância na sua formação e lhe transmitiu o gosto pela obra de António Vieira desde muito novo.
Esta obra resulta, acima de tudo, de um trabalho em equipa, como António Vieira teria gostado, congregando muita gente de Portugal e do Brasil neste esforço comum e consistente, salientou Pedro Calafate.
A parte que coube a Pedro Calafate neste trabalho está relacionada com a obra profética do Pde. António Vieira, a parte que o próprio autor considerava a mais importante da sua vida “palácio dos meus escritos e que nunca chegou a ser editada, aliás uma parte dos seus originais perdeu-se. Pedro Calafate revelou que foi necessário recorrer a cópias dos manuscritos, na sua maioria rabiscados pela censura da Inquisição.
Este coordenador da publicação considera que a obra de António Vieira é um grande tratado sobre a Paz.
José Eduardo Franco admitiu que há muito que sonhava que esta sessão se realizasse aqui, na Póvoa de Varzim, e em particular no Correntes. E justificou: a cidade tornou-se ponto de peregrinação intelectual e é morada do Prof. João Francisco Marques, que tem sido um mestre para mim o último dos eruditos e o guru da Literatura a quem procuro para saber a opinião sobre os meus projetos.
Para Franco, editar a Obra Completa daquele que considera o imperador da Língua Portuguesa impunha-se como um projeto fundamental e, agora, não quer dizer que o trabalho de casa da Literatura Portuguesa esteja concluído, pelo contrário, frisou, isto é o princípio do muito que há ainda a fazer.
Não foi um trabalho fácil, recordou o coordenador da obra,andei 10 anos atrás do Círculo de Leitores até os convencer a editar um clássico, lutando para que esta obra fosse acessível ao grande público. A equipa multidisciplinar reunida por Franco centrou o seu trabalho neste objetivo, preocupando-se menos com os eruditos e mais com o grande público. Assim, concluiu, fizemos a obra realista e minimamente atualizada, com notas explicativas essenciais.
A intervenção do Prof. João Francisco Marques nesta obra centrou-se nos sermões, que ocupam 15 volumes, e que António Vieira considerava serem “pobres choupanas” da sua escrita. João Marques considera isto contraditório, afinal, António Vieira ficou conhecido pelos 220 sermões que deixou (muitos outros se perderam).
Para o investigador poveiro, esta obra era uma meta a alcançar e, pessoalmente, um sonho a concretizar, já que dedica-se ao estudo da obra de Padre António Vieira desde os seus 20 anos de idade, sendo que só agora, aos 82, tem a satisfação de ver concluída a publicação desta obra de loucos.
António Vieira foi missionário, diplomata, pregador da corte, confessor de reis e príncipes, mas nem sequer se sabe onde param os seus ossos, refletiu João Marques, que acrescentou: A Obra Completa está publicada com um texto rigorosamente revisto e fidedigno.
Fica para o presente e para o futuro um património cultural, o património de um génio.