Um tributo ao Sebastião (ou elogio “in memoriam”)
De formação, Engenheiro Mecânico, pós graduado em Administração Publica, Sebastião Ivan foi funcionário de carreira da Secretaria de Estado da Fazenda desde 1969. Pertenceu ao FUNDESC, sendo um dos Superintendentes, atuou no PROCAPE, foi diretor Administrativo da CODISC e, antes de se aposentar, foi Diretor Administrativo e Financeiro da Fundação Catarinense de Cultura.
Nasceu numa véspera de natal, 24 de Dezembro de 1942, na fazenda Chapada Bonita em São Joaquim. Filho de Ismael e Zélia Nunes, de tradicional família de pecuaristas e líderes políticos do Planalto Catarinense. Sentia imenso orgulho de suas raízes serranas, da histórias de sua gente, suas vivências, sua diversidade social e cultural, suas lutas e conquistas, os sentimentos partilhados e a comunhão com a terra – a sua primeira identidade.
Preservava com amor o legado cultural de seus antepassados, os tropeiros: paulistas, gaúchos e portugueses. Sobretudo, dos insulares oriundos dos Açores (ilhas de São Jorge, Pico, Faial e Terceira), na grande corrente migratória do século XVIII, e assentada no Rio Grande do Sul. Dos campos do Rio Grande, via Rio Pardo, Canguçu, Santo Antônio da Patrulha e Viamão, conquistaram o Planalto Catarinense nos idos anos setecentos e oitocentos. Aí se estabeleceu o tropeiro Firmino José Nunes, em 1835, com sua mulher Anastácia Maria do Espírito Santo Martins, ambos de ascendência açoriana. O casal deixou numerosa descendência, quinze filhos. Multiplicaram-se e como a rama da batata foram-se esparramando por toda Serra Catarinense.
Um dia, Sebastião e eu, atravessamos o Atlântico e percorremos os caminhos de seus antepassados nas Ilhas de São Jorge, Pico, Faial e Terceira. Muitos foram os amigos dessas Ilhas que nos acolheram de braços abertos e nos levaram por canadas do coração atrás dessas origens plantadas no Atlântico Norte e (re) vivificadas em Santa Catarina, onde a terra é o laço forte que nos une como a força do sangue que corre nas artérias para todo o sempre.
Fica a saudade agarrada no corpo e na alma como a marca do gado no campo. Forte a sufocar. Suave e terna. Suportável ou não, a nos abraçar por inteiro.
Fica a certeza de sua presença, da sua generosidade, do seu amor, da sua querida lembrança que chega de repente e que nos faz rir ou chorar muito. Sei que vamos encontrá-lo em pequenos gestos, no jeito de ser da Clarisse, do Murilo, da Caroline e da Larissa (e dos seus descendentes), como no poema do Emanuel Félix que tanto gosto e que não imaginava citá-lo, um dia, de forma tão particular – “Os mortos e as sementes” com o qual finalizo este texto.
Os Mortos e as Sementes
Emanuel Félix
Os mortos como as sementes
são enterrados.
Penetram
a dimensão só a eles acessível
atraídos pelo mistério do renascimento
e da fertilidade sem tréguas.
Como as sementes
esperam
o seu regresso à vida
sob uma nova forma.
Quietos
na pobreza da sua substância
precipitados
na impetuosa torrente de germes
estão sedentos
de plenitude biológica.
É por isso
Que tanto se aproximam dos vivos.
Nota: O texto acima é um fragmento de um outro publicado no Facebook em 02/11/2014)