Escritor brasileiro, reconhecido e premiado, iniciou sua carreira com o romance “Um Quarto de Légua em Quadro” (já na sua 6ª edição) em que aborda a histórica saga açoriana por terras do Sul do Brasil, no século XVIII, mostrando que a mobilidade geográfica significou, também, um movimento do espírito, indomável, na reinvenção da vida no Novo Mundo, na conquista de sonhos e no desejo de realizá-los em terras do Brasil. Do lado de lá, o desenraizamento da terra açoriana fincada no Atlântico Norte e na margem de cá a nova raiz plantada e reimplantada, enraizada para sempre. Adaptado para o cinema (O diário de um Novo Mundo, de Paulo Nascimento) este primeiro trabalho abriu a comporta de uma levada fértil e uma produção literária, vigorosa, estética, de grande expressão tomou conta primeiro do Rio Grande do Sul e depois do Brasil.
Além de retratar o universo literário do autor e sua história de vida, “O Códice e o Cinzel” faz uma reflexão sobre os temas que circundam as suas vivências e convivências como a Oficina de Criação Literária ministrada há mais de 20 anos na PUCRS, a magnitude do Pampa, a infância na cidade de Estrela, o dia a dia em Porto Alegre, o exercício da cátedra na respeitada PUC, a música de Mozart, a música brasileira do século XVIII e XIX, o Brasil, a sua íntima relação com os Açores. Somam-se os inúmeros depoimentos de colegas, escritores, alunos e ex alunos, amigos e familiares que em diferentes momentos dão sustentação e enriquecem a narrativa. Apresenta imagens gravadas no Brasil, Portugal (Lisboa e a Ilha de São Miguel, Açores) e Espanha (Madrid).
Nas primeiras cenas do documentário, o espectador sente de cara o impacto da beleza e da imponência da região do Pampa. Em cena aberta imagens pampeiras de indescritível magnitude sucedem-se e a figura serena do escritor integra o cenário. Sua voz num tom emocionado, numa suavidade infinita, se faz ouvir falando sobre a força telúrica do pampa e os seus múltiplos significados num diálogo com o diretor Douglas Machado. O documentário ganha força e se agiganta a cada capítulo exatamente por sua narrativa ser conduzida com dinamicidade, num andamento tranqüilo, contido, simples, didático. Sem pressa vai abrindo porteiras, portas e portais como se tivesse todo o tempo do mundo, apresentando o homem Assis Brasil e sua relação com o meio em que vive seu universo literário e os seus registros de memórias e afetos.
Em mais de duas horas de filme, um desfile cuidadoso de imagens e de conteúdos dão conta da cumplicidade que envolve o cineasta e o escritor na transposição para a tela de seus olhares como nas cenas gravadas na Igreja Nossa Senhora da Conceição de Viamão (RS) em que se refere aos seus antepassados açorianos chegados no século XVIII e que recriaram aquele ambiente de fé. Num relato comovente diz “sinto que sou parte deles, dos meus antepassados, dos meus avós, das pessoas que viveram as minhas lembranças, filhos da primeira geração de açorianos”. O templo carrega um duplo significado: ser o elo com os antepassados e ter sido palco de seu romance “Manhã Transfigurada”.
Nesta altura, do documentário exsurge o regressar às raízes e Douglas Machado com maestria faz a viagem “de regresso” à Ilha de São Miguel enquanto Assis Brasil passa a narrar o que significa os Açores em sua vida, mesmo não sendo um açoriano. Mas, ali se sente em casa e tem grandes amigos. Aliás, enfatiza este sentimento de pertença. Desde a primeira viagem ao arquipélago é como se fosse “o filho que regressava,” de sentir voltando depois de uma longa ausência de 250 anos.
Os depoimentos de seus amigos açorianos falam desse vínculo afetivo e fraterno e da importância da sua obra, dos seus estudos sobre a Literatura Açoriana, nomeadamente da narrativa pós-25 de Abril reconhecidamente nos testemunhos de Daniel de Sá,Joel Neto, Carlos Tomé, Urbano Bettencourt e Vamberto Freitas.
Douglas Machado levou seu olhar estrangeiro ao Rio Grande do Sul do Assis Brasil. Seguiu adiante ao encontro das raízes açorianas unindo como num abraço gostoso as duas margens do Atlântico. Foi preciso fazer os caminhos do mar como fizeram os nossos antepassados por distantes geografias e latitudes. Foi preciso atravessar esta grande ponte de afetos para partilhar histórias, identidades culturais comuns, descobrir os Açores e sua gente para coroar “O Códice e o Cinzel” em consonância com o seu objetivo precípuo.
Só lá, em meio ao Atlântico Norte, pode entender que o “olhar de casa” do Luiz Antonio de Assis Brasil é alargado, para além do horizonte gaúcho, alcançando os Açores. Não é um “olhar do outro” e muito menos “olhar distante”, como afirma escritor açoriano Vamberto Freitas em seu depoimento ao cineasta piauiense: “ Quando ele chega cá,quando participa no nosso mundo cultural creio que ninguém o pensa como vindo do exterior, faz parte de nós. É um estudioso nosso. Não vive cá, mas é nosso. E ainda por cima se identifica como açoriano. Eventualmente, a única diferença entre Assis Brasil e nós é ‘o sotaque` e nem tanto…”
O documentário O Códice e o Cinzel apresenta “um olhar distante e de casa” sobre a nossa realidade cultural, sobre a realidade do escritor gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil e ela necessariamente inclui os Açores que “ sentem-se bem mais universais,muito menos ilhas e bastante mais arquipélago agasalhado entre os continentes que lhe são família” (Onésimo T.Almeida,2003,p.12).
FONTE DE CONSULTA:
ASSIS Brasil,Luiz Antônio de.Escritos Açorianos,A Viagem de Retorno.
Lisboa:Salamandra,2004.Coleção Grajaú,102
ASSMANN,Maíra. História que Constrói Histórias.Gazeta Mix,In: Jornal Gazeta do
Sul,Ano 62,nº401,edição de 10/5/2006. Santa Cruz do Sul RS
COSTA,Maira.Cineasta realiza documentário sobre Assis Brasil.In: Via Com.br,2006
JORNAL DO COMÉRCIO. Diretor do Piauí faz Documentário sobre Autor Gaúcho.
edição de 8/11/2007, Porto Alegre RS
SITE: www.amplanet.com.br
Créditos: “Figueira no Pampa”, Douglas Machado
Cartaz do O Códice e o Cinzel, Douglas Machado