ANSIA
Há séculos sem fim que nos beijamos…
Foi na noite dos tempos, foi há tanto!
Mas um eco nos resta, um longo canto
Do som dos beijos longos que trocámos…
O que a Montanha Açoriana diz
ao Oceano Atlântico:
Há séculos sem fim que nos beijamos…
Foi na noite dos tempos, foi há tanto!
Mas um eco nos resta, um longo canto
Do som dos beijos longos que trocámos…
Como vivemos, como nós andamos
Abraçados, cingidos, num quebranto!
Até que, um dia, se desfez o encanto
E, por ígneo poder, nos separámos!
Na Atlântida, fui praia onde vinhas,
Enamorado e manso, e te detinhas
Cantando, doce, uma balada linda…
Ergo-me em ânsia de beijar-te ainda:
Meu dorso sobe aos céus, para pedir
Que a fúria de um vulcão nos volte a unir!
Oliveira San-Bento
O clamor das sombras,
Papelaria Micaelense, Ponta Delgada, 1933.
O clamor das sombras,
Papelaria Micaelense, Ponta Delgada, 1933.
José de Oliveira San-Bento (1893-1975) advogado, escritor, poeta, natural de Ribeira Grande, ilha de S. Miguel, trabalhou na cidade natal e na de Ponta Delgada onde residia e veio a falecer.