(Maurice Brazil Prendergast, 1858-1924)
mirante poético
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P O B R E Z A
(‘chuva-nossa’ de cada dia)
crianças!…crianças!… lampejos de alegria
expostos ao orvalho da esperança
trazida pela ‘chuva-nossa’ de cada dia…
meninos-jesus perdidos & achados
troféus da sensualidade conferida
aos atletas da pista do cinismo
equipados pela piedade fingida
curvada ao pedestal do fanatismo…
A fala da fome sabe soletrar
o alfabeto da fartura em casa alheia
e o amor-coragem sabe aconselhar
a morte para se fingir sereia
na visita fatal ao amado sofredor…
Ó morte libertadora – morte viva!
retira o oxigênio ao pulmão da dor
deixa…deixa! o sofrimento à deriva…
crianças-peregrinas a mirar destinos
atreladas aos varais da mãe-pobreza
que veio ao mundo já condenada
a pão e água (e dor) sobre a sua mesa…
a crueldade é deusa idolatrada
na gramática do verbo padecer…
– Vida! – somos cativos da certeza
de que a morte é fiel ao seu dever…
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inédito
(*) João-Luís de Medeiros – poeta, cronista da imprensa & rádio da diáspora lusófona. (B.A. Humanities & Social Sciences; Master of Sciense / Human Resources).