Na oportunidade da comemoração do aniversário da Casa dos Açores Ilha de Santa Catarina é bom registrar que, talvez, seja esta a única Casa que abriga memórias, saudade, lembranças, tradições transmitidas pela oralidade – o patrimônio espiritual de nosso povo.
Uma gente que é açoriana por um legado de 261 anos que foi passado dos avós, dos pais, dos filhos de tantas gerações e alcançaram o século XXI com a mesma força daqueles ilhéus que no arquipélago açoriano nasceram. Um cordão umbilical tão tênue como o fio da renda tecida sobre a almofada de bilro.
A CAISC congrega as comunidades de cultura açoriana da Ilha de Santa Catarina e do litoral catarinense. Há dez anos, essas raízes seculares vêm sendo revigoradas com o trabalho dedicado de voluntários, estudiosos, pesquisadores, artistas, artesãos promovendo ações culturais para a valorização da herança açoriana sobrevivente e para a difusão da açorianidade.
Não é sem razão que a logomarca da Casa traz o detalhe de uma casa iluminada pela pombinha do Divino, símbolo da maior referência identitária da presença açoriana no mundo e que une toda uma diáspora numa geografia de afetos e memórias.
É a entidade que, legitimamente, representa os municípios de origem açoriana em Santa Catarina, procurando integrá-los e representá-los junto às demais comunidades da diáspora açoriana, em intercâmbio com o Governo dos Açores.
Ao celebrar 10 anos de fundação a CAISC contabiliza um rol de ações e apoios que vêm corroborar os seus objetivos e justificam a sua existência, tais como: exposições, apresentações musicais e cênicas, produção literária, oficinas artesanais, cursos, palestras e execução de projetos culturais e sociais, além de promover inúmeras parcerias com instituições locais e intercâmbios nas mais diferentes áreas de conhecimento.
A presidência da Casa dos Açores da Ilha de Santa Catarina é exercida pela bibliotecária Carin Heloisa Hahn da Silva Machado, releita por aclamação em 13 de novembro de 2009, tendo na vice-presidência o historiador e líder da comunidade do Pântano do Sul, Arante José Monteiro Filho.
O sonho da atual administração ou seu projeto maior é restaurar a Casa do Vigário, prédio junto à Igreja Nossa Senhora da Conceição na Lagoa da Conceição, um bonito casarão construído em 1750 por casais açorianos. A bicentenária edificação, pertencente à Cúria Metropolitana de Florianópolis e concedida em Contrato de Comodato à Casa dos Açores Ilha de Santa Catarina, está fechada há mais de 50 anos. Por muitos anos serviu para moradia dos párocos. Edificação mais antiga da Ilha de Santa Catarina e, provavelmente,do Estado. Único exemplar remanescente de tipologia arquitetônica rural de influencia luso-brasileira. É patrimônio protegido por lei municipal e estadual e sítio arqueológico reconhecido pelo IPHAN (nacional).
A futura sede da CAISC será um espaço cultural aberto à comunidade da Lagoa da Conceição, da Capital e de toda Santa Catarina para a livre manifestação da cultura popular açoriana.
No sábado,dia 4 de dezembro, dentro das comemorações de seu aniversário, foi apresentado o Projeto de Restauro da Casa do Vigário pela arquiteta Betina Adams para a comunidade da Lagoa e convidados, destacando-se a presença da Dra.Rita Machado Dias,Diretora Regional da Comunidades e do Dr.João António Branco Martins, do Gabinete de Intercâmbio Cultural Comunitário,DRC,sediado em Angra do Heroísmo que vieram a Santa Catarina em visita oficial e, especialmente, para prestigiar o aniversário da CAISC.
Após visita as dependências da Casa do Vigário, assistiu-se a um bonita apresentação do Grupo Folclórico Açor-Sul do município de Sombrio,extremo sul catarinense. Um grupo de jovens que com simplicidade, arte e muita alegria bailaram e cantaram em homenagem às suas raízes açorianas, tendo por cenário a Casa do Vigário,a centenária igreja NS.da Conceição e a bonita lagoa da Conceição,cartão postal de Florianópolis.
Isto tudo, aumenta a minha convicção de que, se o sangue açoriano diluiu no passar das gerações ao se misturar a tantas outras etnias que dão cara à nossa gente, nossas artérias, hoje mais do que nunca, são rios de afetos que circulam diretamente ao porto do coração, a nossa identidade cultural.
Crédito Imagens: Acervo CAISC e Blog Comunidades