Pátria Floripa
Em duas gerações, de 1960 a 1990, a cidade terá crescido a um ritmo “chinês” de quase 8% ao ano. Em 1960, a cidade contava com uma população ainda de dois dígitos de milhar: 98.590 habitantes. Hoje, só na ilha temos meio milhão. Se contarmos a Grande Floripa, um milhão.
Era bom. Todo mundo se conhecia. Todas as casas tinham quintais, mesmo no centro da cidade. As crianças conheciam um peru, uma galinha, bichos que hoje só conhecem prensados e congelados nas gôndolas dos supermercados.
O carteiro entregava a correspondência sem olhar o endereço, só pelo formato do envelope. As casas eram identificadas pelo jardim. As margaridas da dona Ina Moelmann; as buganvílias do “seu” Raulino Horn; as bocas de leão do seu Carolo Wendhausen, na Praia de Fora; os copos de leite da casa do Barão, na Bocaiúva. Jornal era na banca do Beck e carne já era nas Fiambrerias Koerich. Piano Bar, no Lux e no Querência…
Há 50 anos a cidade era uma aldeia, podia-se dormir de janela aberta.
Hoje, Floripa é um mini-Rio de Janeiro, com assaltos a banco, a ônibus, a residências. Só falta inaugurar a fase dos “seqüestros-relâmpagos”.
Costumava passar férias no Rio nos anos 1960 e lá me perguntavam:
– Florianópolis? Onde fica? Fica no Brasil?
Morar em Floripa virou um sonho de consumo. Não conheço brasileiro de bom gosto que não ame Floripa, que não persiga a ilha nos verões abrasivos, no inverno brando, na amenidade da primavera, todos querendo testemunhar os mais belos “ocasos” do planeta – e, por tabela, ouvir os “casos raros” da ilha formosa.
Seria o caso de se parodiar o samba famoso e versejar:
– Quem não ama Floripa/ Bom sujeito não é/ Ou é ruim da cabeça/ Ou doente do pé…
Floripa precisa de prefeito. Alguém que ressuscite o planejamento, o Ipuf e tenha uma visão prospectiva do futuro. E que cuide da segurança pra valer, sem pensar como a atual administração, para quem “segurança” é assunto do Estado e da União.
Ora, ninguém “vive” no Estado ou na União, ficções jurídicas. Vivemos no município.
Os candidatos a prefeito precisam estar sintonizados com uma pragmática noção de pátria.
Nossa única pátria começa do outro lado da porta de nossas casas.