Cheiro caminhos de terra, em vento vago.
Finda o dia! No cais vara lenho derradeiro…
E a fruta no mato amadurece o bago!
Hortênsias afloram do bardo,
como vagas do mar irado, salgando o doce prado…
Os salgueiros da margem do cais,
onde os barcos vão só no meu olhar,
deitam ao vento os braços,
ancorados na sombra que tomba, lentamente…
A rosa tem na pétala vapor
de vento, de água, de mar, de nada…
e o lenho na vela orvalhos tem de sal!
Pastam gados em pastos sem pastagem…
Pardas pedras iludem pardos gatos.
A noite o portal abre
e saltam carneiros em colinas longínquas…
E conto: um. Dois… quatro! Já sonho!
o barco fica, o cais parte…
A noite chove no mato, no mar, na alma!
O bago no bico da ave voa!
O sonho bate nas vidraças do ser…
como se, do casulo de seda,
lagarta queda fora já borboleta leda!
Paulo Freitas, Vaidades de Março,
Angra do Heroísmo, Academia S. Tomás de Aquino, 1998.
Paulo Silva Freitas (1974), animador cultural, ator, pintor, poeta, nascido nos Estados Unidos da América cresceu na cidade da Horta, ilha do Faial, reside e trabalha em Angra do Heroísmo.