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Após a sua morte, diminuíram os estudos e o interesse sobre a sua obra. Porém, David-Mourão Ferreira, em parceria com Cunha Leão, organizou e publicou, em 1968, uma antologia exclusivamente com poesia de Cecília. Desenvolveu igualmente uma série de reflexões sobre a sua obra, tendo-lhe entendido nitidamente a dimensão universal – como sucede, por exemplo no artigo “Cecília Meireles: temas e motivos”.
Neste contexto importa ainda referir outros estudos, como é o caso do realizado pelo professor açoriano José de Almeida Pavão, intitulado “O portuguesismo de Cecília Meireles e os Açores”, separata de Ocidente (1973).
Ainda na década de setenta, surge-nos, em 1977, na Colóquio Letras, uma recensão crítica a Poesias Completas VII da autoria de Maria da Glória Padrão, onde é acentuada a perenização do efémero patente na poesia ceciliana, a polarização entre o telúrico e o etéreo e a sua vertente simbólica enraizada no húmus do passado, da História, da tradição:
“Cecília Meireles – transitoriedade em revolta e em transcendência. O espaço da palavra transcende-se porque passamos vindos de raízes – e a obrigação da raiz é a planta. É herdada uma unidade forte que se faz da presença dos mortos e dos séculos. E desse antigo da terra (…) tudo é tão real como um símbolo e tudo tão símbolo como uma realidade.” (Padrão, 1977, p. 65-66).
Nos anos oitenta, encontramos ainda, em Portugal, alguns ensaios e textos críticos sobre esta escritora, que passaremos a referir, muito sucintamente.
Fernando Cristóvão escreveu também um interessantíssimo ensaio intitulado “compreensão portuguesa de Cecília Meireles” (1980), publicado na revista Colóquio Letras e na obra Cruzeiro do Sul a norte – Estudos Luso-Brasileiros (1983).
Na Colóquio Letras publicam-se alguns poemas de Cecília (“os mortos sobem as escadas” e “discurso”, para além de alguns ensaios e recensões críticas que vão escasseando, no entanto, à medida que avançamos no tempo. Além disso, na década de oitenta, vem a lume, nesta revista, um belíssimo texto da autoria de Luísa Dacosta, intitulado “Encontro em tempo permanente”. Assim, subjugando-se à concepção do tempo ceciliano, do “eterno momento”, a autora revela e descreve-nos uma visita ao Rio de Janeiro e todos os caminhos percorridos sob o signo de Cecília, sempre omnipresente em cada gesto, assumida como destinatária constante do momento da escrita, interlocutora presente, na sombra da ausência: “Quando cheguei à tua cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, (…), já tu, Cecília, estavas morta. (….) Teu canto de transitoriedade «alto e só» tinha emudecido. Perdurava, no entanto, o eco da tua música”. (1986, pp. 65-66).
Francisco Cota Fagundes estudou as afinidades existentes entre Cecília e Pessoa (como é o caso, por exemplo, do gosto pela infância e pelo tempo perdido), num texto publicado na revista Persona com o título “Fernando Pessoa e Cecília Meireles: a poetização da infância” (1981).
Nas universidades portuguesas, diversas têm sido as dissertações de doutoramento e de mestrado, elaboradas sobre esta autora, de entre as quais podemos referir: Cecília Meireles – uma poética do eterno instante (1993), de Margarida Maia Gouveia e O canto repartido: Cecília Meireles e Portugal (2002) de Luísa Maria Gonçalves da Mota.
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