PENTEANDO A MEMÓRIA 11
CARLOS ENES
JARDIM DOS CORTE-REAIS
O Jardim dos Corte-Reais foi uma daquelas obras de embelezamento da cidade de Angra a que não foi dada grande utilização e que lentamente acabou por entrar em degradação.
Como se pode constatar pela fotografia, todo aquele espaço estava ao abandono, no prolongamento de umas casas cujas traseiras davam para o mar. A fotografia é anterior a 1884, dado que não se vislumbra ali o “Mercado do Peixe”, oficialmente denominado de D. Maria Pia.
Espaço anterior ao jardim, no séc XIX
Os primeiros dados que encontrei para alterar esta situação reportam-se a 1925, quando a Câmara Municipal adquiriu o terreno. As obras levaram algum tempo a iniciar-se e outro tanto a concluir. Em 1927, foram incluídas verbas no orçamento da Junta Geral para que prosseguissem os trabalhos que andavam a passo de caracol. Dois anos depois, os jornais noticiavam que as obras iam adiantadas no então chamado Jardim da Rocha e a administração do mesmo passava a pertencer à Junta Autónoma dos Portos. Não consegui apurar o ano da conclusão, mas em 1931, o jardim já recebia visitas ao fim-de-semana e tinha a designação de Corte-Reais.
A abertura do jardim trouxe um maior embelezamento à zona, mas continuou a ser um espaço que não atraía os angrenses, apesar da bela vista sobre a baía.
Padrão
Por ocasião das comemorações do V Centenário do Povoamento da Terceira, os dinamizadores do programa decidiram colocar no jardim um padrão comemorativo do evento. O projecto foi elaborado pelo arquitecto Fernando de Sousa, na altura professor da Escola Industrial, e a execução foi entregue à Direcção das Obras Públicas do Distrito. Os custos foram suportados pela Junta Geral e a inauguração ocorreu no dia 19 de Outubro de 1950, presidida pelo governador civil, com a presença de diversas autoridades e de algum público.
Continha a seguinte legenda:
“Lembra às gerações futuras aqueles primeiros
portugueses que nesta ilha desembarcaram, a povoaram e
desenvolveram, aqui guardando e defendendo este solo sagrado
da Mãe Pátria Portuguesa. A geração do V Centenário do
Povoamento em 1950.”
A colocação do padrão em nada alterou a vida do jardim até que as obras de reestruturação da baía de Angra, enquadradas no projecto da marina, conduziram à sua demolição, no início do século XXI. Aquela área ficou essencialmente reservada à zona de restauração. O que não consegui apurar foi o destino dado ao padrão que lá se encontrava.