Chafariz
PENTEANDO A MEMÓRIA 16
CARLOS ENES
O Convento da Graça foi instalado no Alto das Covas no início do século XVII pelos frades da Ordem de Santo Agostinho, com invocação de Nossa Senhora da Graça. Em 1829, na altura das lutas liberais, o Batalhão de Caçadores n.º 2 esteve aquartelado no convento e, a 10 de Janeiro de 1832, foi fechada a igreja de Nossa Senhora da Graça. O convento, colocado em hasta pública pela Prefeitura da Província, foi adquirido pelo coronel José Francisco Alves Barbosa que o transformou num palacete residencial. Em 1895, foi vendido aos jesuítas, que pretendiam ali instalar um colégio. O projecto acabou por não se concretizar porque a onda anti-jesuítica que percorria o país também teve reflexos na Terceira e os padres acabaram por ser expulsos da ilha, em 1901.
Uns anos depois, em 1909, a Recreio dos Artistas instalou-se no convento e acabou por adquiri-lo em 1911. Neste ano, deflagrou um incêndio originado numa padaria que ali funcionava desde 1897, destruindo a biblioteca da colectividade. Feitas as reparações, o velho convento acabou por se transformar num centro de actividades culturais da cidade. Na antiga capela, cuja reconstrução os jesuítas haviam iniciado, ficou instalado o palco, com camarins e sanitários, foi remodelado o amplo salão, colocados tectos e sobrados novos, melhorada uma sala de aula para a instrução primária, instaladas uma bancada circular e cadeiras ao ar livre na cerca, onde se realizavam sessões de cinema e circo. As salas foram aproveitadas para local de convívio, bailes e ginásio. Havia também espaços dedicados ao desporto – ténis, voleibol e futebol – onde funcionou a sede e o campo do Sporting Clube da Terceira.
Em 27 de Junho de 1931, por acordo celebrado entre o Inspector Escolar, a Junta Geral, a Câmara Municipal e a Caixa Económica de Angra, foi criada a Comissão Promotora de Construções Escolares, com o objectivo melhorar as escolas do concelho, cujo estado era deplorável.
A ideia de construir uma escola nos terrenos do antigo convento terá partido do presidente da Câmara, Amadeu Monjardino, que resolveu dar-lhe o nome de Infante Dom Henrique, por altura da comemoração do V Centenário do Descobrimento dos Açores (1932). O novo edifício devia albergar os alunos das escolas primárias da Sé, Santa Luzia e S. Pedro. Com esse objectivo, a Comissão negociou com a Recreio dos Artistas a aquisição de parte do edifício e os terrenos anexos, que foram adquiridos em 1935. Iniciou-se, então, a demolição do convento para principiarem as obras da escola do Alto das Covas, como ficou conhecida. Apesar da grande polémica que se gerou, o presidente da Câmara, Dr. Joaquim Corte-Real, deu um grande impulso ao projecto, que levou vários anos a construir. Durante a II Guerra Mundial, deu guarida ao Batalhão de Infantaria 77 e só começou a receber alunos nos anos 50. O chafariz apresentado na fotografia continua no Alto das Covas, à entrada do edifício do Instituto Açoriano de Cultura.
Carlos Enes