PENTEANDO A MEMÓRIA 18
Carlos Enes
Depois de ter sido fundado o Observatório de Lisboa, iniciaram-se diligências para que se abrissem postos meteorológicos em várias localidades do país. O Posto de Angra foi criado em Outubro de 1862, tendo recebido os instrumentos necessários, mas só entrou em funcionamento no dia 1 de Outubro de 1864.
Ficou instalado no edifício de São Francisco, tendo como director o naturalista e professor do liceu José Augusto Nogueira Sampaio. O registo das primeiras observações foi enviado para o Observatório de Lisboa que, por sua vez, elaborou uma comunicação para o Observatório Imperial de Paris. Esta feição internacional do Posto esteve patente ao longo da sua existência, dada a posição privilegiada dos Açores no meio do Atlântico, cujas observações eram muito requisitadas. Em 1881, foi transferido do edifício do Liceu para dependências do Colégio.
(torre central)
As viagens de estudo do Príncipe Alberto do Mónaco abriram novas perspectivas de ampliação. Amigo pessoal do rei D. Carlos, conseguiu chamar a atenção do monarca português para a importância daquele serviço. Por ocasião da visita régia, em 1901, o rei acabou por obsequiar os açorianos com a publicação de uma lei que criou o Serviço Meteorológico dos Açores. Este serviço foi presidido pelo coronel Afonso Chaves, um cientista micaelense de renome internacional, até à data da sua morte, em 1926, sucedendo-lhe o tenente-coronel José Agostinho, também conhecido e conceituado especialista nesta área.
Como as velhas instalações estavam obsoletas, foi decidido criar um novo observatório em Angra, a expensas do governo. Foram adquiridos, em 1935, os terrenos junto ao chamado “Páteo do Conde”, ou seja, do conde da Praia, da família Ornelas Bruges. O ante-projecto foi organizado pelo mestre Maduro Dias, sobre o qual foi elaborado o projecto definitivo pela Direcção-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, assinado pelo arquitecto Rebelo de Andrade. A obra foi adjudicada em concurso público pelo construtor local, Manuel Almeida Chaves, com um orçamento de 673 contos, aos quais se acrescentaram mais 65 contos em obras complementares. No dia 1 de Janeiro de 1941, as observações meteorológicas deixaram de ser feitas no Colégio, passando para umas instalações provisórias nos terrenos do Observatório, que foi inaugurado em Março de mesmo ano.
(torreão)
O complexo era constituído por um edifício central, destinado exclusivamente ao serviço do observatório; um edifício para os sismógrafos e rádio sondagens; duas moradias para funcionários, uma pequena casa de arrecadações e oficinas. Ficou equipado com material diverso e moderno para a época, o que lhe permitiu desenvolver as suas actividades com grande utilidade para o país e também para o estrangeiro.
Como se pode constatar pela fotografia, estes terrenos ficavam no alto da freguesia de Santa Luzia, ocupando toda aquela vasta área murada.
A inauguração desta obra foi enquadrada num vasto programa de comemorações que ocorreram por todo o país, conhecidas pelas comemorações do Duplo Centenário. Isto é, em 1940 comemorou-se a fundação de Portugal (1140) e a Restauração (1640). A Terceira também desenvolveu um vasto programa de iniciativas, ficando a inauguração do Observatório Meteorológico ligada a esta comemoração.