Jardim de Angra -1954
Almeida Garrett (1799-1854), embora tivesse nascido no Porto, era filho de um açoriano e viveu na Terceira, na sua juventude. Liberal convicto, aderiu à Revolução de 1820, mas foi obrigado, como muitos outros, a exilar-se após o controlo do poder pelos miguelistas. A reviravolta que os liberais terceirenses imprimiram a todo este processo, em 1828, permitiu que os exilados fossem regressando do estrangeiro e estabelecessem na ilha o seu quartel-general. Durante a sua permanência em Angra, Garrett exerceu funções governativas, junto de Mouzinho da Silveira e, em 1832, acompanhou D. Pedro na conhecida expedição dos Bravos do Mindelo
Consolidado o regime liberal exerceu vários cargos na governação e foi eleito deputado por Angra. É da sua autoria a redacção do decreto de 1837 que atribuiu a Angra o sobrenome de Heroísmo e o título de Sempre Constante e à Praia o sobrenome de Vitória e o título de Muito Notável.
Por todas estas razões ficou ligado à ilha Terceira. Por altura da comemoração do centenário da sua morte, a Comissão Central escolheu as cidades a que mais havia estado ligado, para promover as comemorações, onde se incluiu Angra do Heroísmo.
O programa das comemorações, organizado pelo grupo Amigos da Terceira e pela Câmara Municipal, iniciado em Novembro de 1954, contou com a presença do Professor Catedrático, António de Almeida Garrett, representante da Comissão Central e familiar do homenageado. Desse programa, destaco dois momentos.
O primeiro ocorreu com a inauguração da “glorieta” em sua homenagem no jardim de Angra. A efígie é da autoria do escultor Xavier da Costa e ficou enquadrada num projecto do arquitecto Fernando de Sousa.
Das várias inscrições que nela constam saliento a seguinte: “Não tive a fortuna de nascer naquele torrão, mas a minha pátria, mas a de meus pais, mas o meu património, mas tudo quanto constitui a pátria dum homem, é a minha saudosa ilha Terceira, um dos mais nobres padrões da glória portuguesa”.
Na Praia da Vitória, foi também descerrada uma placa, em cerimónia oficiosa, junto à Avenida Beira-mar. No texto, concebido por Vitorino Nemésio, pode ler-se: “A Garrett, que em menino andou por esta praia e em 1829 a cantou no seu exílio de Londres: E a Praia é só/Apenas se ouve a bulha compassada/Da ressaca, gemendo e murmurando”.
Placa na Praia
Foram colocadas ainda outras placas: uma na Rua de São João, na casa onde viveu, e outra numa quinta da família, no Caminho do Meio, em São Pedro.
Dado que o Estado Novo tudo fez para que fosse esquecido o percurso histórico liberal, nestas comemorações foi essencialmente privilegiada a faceta do escritor romântico e do poeta. O único terceirense que, nesta ocasião, teve a ousadia de evocar Garrett como homem de pensamento liberal foi Luís da Silva Ribeiro.