PENTEANDO A MEMÓRIA – 6
CARLOS ENES
MONUMENTO A FERREIRA DRUMMOND
Perpetuar a memória dos homens que se foram distinguindo entre o comum dos mortais tem sido uma prática das sociedades contemporâneas. Os terceirenses não escaparam a esse ritual quando ergueram o seu primeiro monumento a Silvestre Ribeiro. Posteriormente, Francisco Ferreira Drummond (1796-1858) mereceu também essa honra, cabendo a iniciativa à Câmara Municipal de Angra. Nascido na então vila de São Sebastião, evidenciou-se na área da história, sendo considerado um dos maiores historiadores da ilha.
Apesar de as suas habilitações literárias terem ficado pela conclusão dos estudos que era possível realizar na Terceira, ou seja, a instrução primária a que se seguiu a aprendizagem de Latim, Lógica e Retórica, Ferreira Drummond revela uma vasta cultura espelhada também na colaboração que prestou na imprensa local. A sua obra mais conhecida, Anais da Ilha Terceira, em quatro volumes, redigida com um cunho científico, é um precioso instrumento de trabalho para os estudiosos.
A intervenção na vida política concretizou-se após a Revolução Liberal de 1820, projecto ao qual aderiu e lhe causou alguns dissabores: no espaço de tempo em que os miguelistas dominaram a ilha, Ferreira Drummond foi obrigado a exilar-se por um ano.
Mas quando se instalou definitivamente o regime liberal, serviu a sua terra natal em vários cargos: escrivão da Câmara, tabelião, provedor da Misericórdia e presidente da edilidade entre 1836-39. Foi um dos grandes lutadores contra a extinção do concelho de São Sebastião, conseguindo que não fosse aplicada a legislação publicada em 1855. De facto, a extinção só veio a ocorrer em 1870, o que revela bem a complexidade de um problema que vai estar muito presente nos dias que correm com a anunciada reforma administrativa.
Por tudo o que ficou descrito, a Câmara de Angra resolveu erguer-lhe um monumento, no ano de 1951, da autoria do artista Maduro Dias.
A freguesia mobilizou-se para lhe prestar essa homenagem, numa grandiosa festa que integrou também autoridades e crianças das escolas devidamente uniformizadas. A cerimónia constou de um cortejo, acompanhado pela filarmónica, que se dirigiu para a casa do homenageado, onde foi destapada uma lápide. No Largo do Rocio, o tetraneto Viriato Drummond descerrou o monumento, a que se seguiram os discursos oficiais.
Uns anos depois, por iniciativa do Instituto Histórico da Ilha Terceira, foi também comemorado o centenário da sua morte, com uma série de iniciativas religiosas e culturais. Na casa do insigne historiador foi descerrada outra lápide evocativa desta cerimónia.