PENTEANDO A MEMÓRIA 7
CARLOS ENES
MATINÉE REGINA
Se para as gerações mais novas a Matinée Regina não tem qualquer significado, para aquelas que estão para lá da casa dos 40 as ressonâncias evocam momentos de grande alegria na quadra do Carnaval. Foram muitas as centenas de crianças que ao longo dos anos participaram nestes concursos realizados no Teatro Angrense.
1950-premiados
Tudo começou em 1932, por iniciativa de um dinâmico empresário terceirense, o senhor Alberto Ferreira, que era o representante dos chocolates Regina. As fantasias de Carnaval já vinham ganhando projecção no meio das crianças angrenses que se juntavam no Salão da Cozinha Económica ou no Tennis Club. O senhor Alberto Ferreira aproveitou essa dinâmica e organizou uma matinée infantil, distribuindo prémios aos que apresentassem a melhor fantasia. No primeiro ano, a menina vencedora recebeu uma máquina de costura e respectivos apetrechos e o menino foi contemplado com uma miniatura de um carro de bombeiros. A partir de então, um júri escolhia quatro ou cinco fantasias das melhores, passando a ser atribuídas caixas de chocolate aos vencedores.
A matinée ganhou grande projecção e transformou-se num dos momentos altos do Carnaval quando passou a realizar-se no Teatro Angrense. No início a entrada para o espectáculo era livre, mas, posteriormente, para ter acesso ao espectáculo, os consumidores acumulavam as pratas dos chocolates que iam comendo ao longo do ano e, na véspera do Carnaval, trocavam essas pratas por bilhetes de entrada. Uma estratégia que resultou em pleno, enchendo-se por completo a sala do Teatro Angrense.
Anos 60
O espectáculo consistia no desfile das fantasias, mas foi sendo enriquecido com outras actividades. Se no início a festa era abrilhantada pela orquestra de Henrique Vieira, foram surgindo depois cançonetistas, palhaços, ilusionistas, malabaristas, bem como representações de alunos da escola primária Infante D. Henrique e de um colégio particular, ensaiados pela professora Maria Helena Soares e por Maria Francisco Bettencourt, respectivamente. Havia outros momentos mais hilariantes, como o concurso de rebenta balões ou o de comer um prato de papa de chocolate, sem colher. Entre as cançonetistas que desfilaram pelo palco, Maria Lígia era muito apreciada e era conhecida como a Amália terceirense. A apresentação do concurso era feita por locutores do Rádio Clube de Angra, com destaque para João Ávila e Florival Sancho.
Uma análise das colecções de fotografias deste evento revela uma imensa variedade de temas. A etnografia está sempre presente, com os trajos típicos terceirenses, desde o leiteiro, o pastor ou os foliões, mas também as grandes personagens da literatura infantil, trajos do folclore internacional e das vedetas da época. A imaginação deu asas à grande criatividade que bem caracteriza os terceirenses nas suas mais diversas manifestações culturais.
A festa da matinée Regina acabou poucos anos depois da morte do seu dinamizador, em 1974.