PENTEANDO A MEMÓRIA – 8
CARLOS ENES
PROCISSÃO DOS SANTOS PADROEIROS
A participação da Igreja nas festas comemorativas da sociedade terceirense foi uma constante no período do Estado Novo, assumindo maior ou menor relevo consoante o tema e a conjuntura. O mesmo não acontecera nos festejos da monarquia liberal nem na vigência da I República.
Por alvitre do jornal A União, realizou-se a festa dos Santos Padroeiros de todas as paróquias e curatos da ilha Terceira, integrada nas comemorações do V Centenário do Povoamento da Ilha Terceira. A cerimónia ocorreu no dia 6 de Agosto de 1950, e foi, sem dúvida, uma das maiores manifestações religiosas do século passado.
Todas as freguesias estiveram representadas no cortejo com os respectivos padroeiros, o pároco e uma delegação de trinta pessoas. A concentração ocorreu no adro de São Francisco, em cuja igreja se realizou uma missa, organizando-se depois um cortejo que seguiu em direcção ao Relvão, onde foi celebrada uma missa campal.
O cortejo abriu com um grupo de filiados da Mocidade Portuguesa, a que se seguiu a imagem do padroeiro da ilha, Santo Cristo dos Milagres, conduzida pelos irmãos da Santa Casa, e a do Beato João Baptista Machado, transportada pelos internados no Orfanato. As restantes imagens das freguesias incorporaram-se numa sequência geográfica pelo lado nascente da ilha. Ao todo, desfilaram mais de 30 imagens, acompanhadas por mais de mil homens.
No cortejo não faltaram as autoridades civis e militares, Brigada Naval, Legião Portuguesa, Bombeiros Voluntários, Mocidade Portuguesa e várias filarmónicas. Nas janelas e varandas, devidamente engalanadas, muitas pessoas assistiram ao desfile bem como ao longo dos passeios.
Junto das muralhas da Fortaleza de São João Baptista foi erguido um altar, onde o Bispo da diocese celebrou missa. Ao lado do altar foram colocadas as imagens dos padroeiros. A Mocidade Portuguesa fez a guarda de honra e uma banda de clarins militares executou o toque próprio da Elevação. Três girândolas de foguetes anunciaram à cidade o momento da Consagração, fazendo repicar os sinos das igrejas paroquiais de Angra.
No final, organizou-se novamente a procissão que se dirigiu à Sé Catedral, onde foram recolhidas quase todas as imagens, para dali seguirem em direcção às respectivas freguesias.
A logística de toda esta operação foi facilitada pela cedência de transportes militares, do Exército e da Força Aérea, bem como da Junta Geral e Câmaras Municipais. Algumas freguesias mais próximas da cidade optaram por fazer cortejo a pé. A Procissão dos Santos Padroeiros foi, assim, um ponto alto das manifestações religiosas da ilha, porque a envolveu por inteiro.