(Os Emigrantes – Domingos Rebelo, 1891-1975)
peregrinos do além (*)
Na vida, o ponta-pé de saída
ignora o apito final da partida.
Os insultos aos atletas do Bem
são como lancetadas à valentia
dos peregrinos em busca do Além…
Irmã-verdade… não te queremos em saldo
na ‘feira-da-ladra’ da memória.
Não consintas que a tua sina
aceite ordens dos marechais da história
medalhados pelos cardeais da rotina…
Afinal, chegámos ao fim? De que finalidade?
Dizem que o fim é vírgula esquecida
no cruel decreto da eternidade
e opresente, coitado! – fingido lampejo da vida,
escondido no mistério da escuridade…
Presente! Ó presente! – ninguém te sente:
sentimos apenas a brisa de promessas
que o provisório nos consente…
Atina! O eco do sermão da felicidade
é linguagem que já ninguém entende…
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João-Luís de Medeiros
(*) oração-poética imaginada (em silêncio)
na viagem aérea do novel emigrante
(Açores-Boston – Sábado, 18 Outubro, 1980)