EU NÃO VEREI A AURORA
Quando este mundo imundo desabar
caírem as ditaduras, a ignomínia das torturas
tiver fim, os povos forem
livres e fartos, as castanhas saltarem
festivas em todos os pratos
a longa noite acabar
eu não verei a aurora.
Eu não verei a aurora
e saúdo com aleluias
todos aqueles que a verão
temendo somente quer ela não venha
logo resplandecente e, ao surgir,
traga ainda estigmas do século
pálidos painéis de guerras e holocaustos
sombrias manchas de mártires e déspotas
sinistras forcas esmaecendo
ainda doendo antes de tragadas
pelo esplendor da nova gênese
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A poeta MAURA DE SENNA PEREIRA Maura de Senna Pereira, a primeira mulher a ocupar a Academia Catarinense de Letras (ACL),nasceu em Florianópolis em 10 de Março de 1904.Morreu no dia 21 de Janeiro de 1992, aos 88 anos,no Rio de Janeiro. Foi a primeira mulher jornalista de Santa Catarina ao escrever artigo, em 1923, para O Elegante. No mesmo jornal,em 1925, é publicado o seu texto Volvamos nossas Vistas para o Provir, precursor do discurso feminista na imprensa local. Torna-se pioneiro no jornalismo e na causa feminista das catarinenses.
Assina,em 1926, a coluna À la Garçonne no diário Folha Nova onde traçava perfis de senhoras e senhoritas da elite, mostrando a importância das atividades desenvolvidas por elas.
Foi no jornal República que sua carreira decolou. Em 1931, seu nome aparece no expediente entre os principais redatores. Neste período destaca-se o suplemento Domingo Literário fazendo uma excelente difusão literária de tudo que era produzido de bom na capital e dá a conhecer uma gama de escritores de outros Estados brasileiros e também estrangeiros publicando seus poemas e artigos.
Ao se separar do marido vai morar no Rio de Janeiro. O que para a época foi um verdadeiro escândalo. Ali,longe da preconceituosa sociedade florianopolitana reconstituiu sua vida e nunca mais retornou à Ilha que tanto amava. Conhece o escritor mineiro José Coelho de Almeida Cousin e passa a viver com ele. Na imprensa carioca, trabalhou no A Noite, A Manhã e Vida e Gazeta de Notícias, onde era responsável pelo suplemento Mulher. Mais tarde, torna-se editora das colunas Casa de Boneca e Nós e o Mundo do mesmo Gazeta de Notícias.
Maura de Senna Pereira, com uma postura vanguadista tanto na defesa dos direitos da mulher quanto na intensa produção literária foi uma mulher para além do seu tempo. Defendeu fortemente o voto feminino e a isonomia salarial no magistério.
Maura deixou um acervo de mais de dez livros e incontáveis crônicas publicadas em jornais de Santa Catarina e Rio de Janeiro por mais de uma década.
Apontada pela crítica especializada, por unanimidade, como a melhor poeta em Santa Catarina até hoje, Maura de Senna Pereira consta também como a primeira mulher a ocupar cadeira em uma Academia de Letras no Brasil – não existe outro registro – e igualmente do mundo, visto que na mais tradicional do planeta, a francesa, a primeira pessoa do sexo feminino, Marguerite Yourcenar, assumiu o posto em 1982. Maura foi eleita em Santa Catarina em 1927.
Fonte: Anais da Academia Catarinense de Letras
Despoemas, Achiamé, Rio de Janeiro, 1980)