Poemas do Eu-Não-Eu
À Esquina
Na esquina duma noite, esperei por ti.
Espero, ainda,
Aqui.
E tinha uma canção deveras linda
P’ra te cantar:
Benvinda!
Aqui e onde a vida tem dobrar,
Espero ainda,
Luar,
A luz, a tua luz de graça infinda
Um beijo eterno:
Benvinda!
Mas tu fizeste à minha noite inferno,
Aqui à esquina
Da minha Ilha
Pequenina!
…E foi o Eu-não-eu…
Alguém
Alguém que tem um mar
Igual ao meu
Onde naufraga
Em cada vaga;
Alguém que não respira
O ar
(tal como eu…)
E mova num silêncio de safira,
E diz que sabe amar
Sem coração,
Porque o não tem,
(Que não sou eu…)
Alguém, alguém,
Não…
Compreendeu
Este eu-não-eu
Da minha Ilha.
Ilha do Mar
Julguei-me Criador predestinado,
E levantei, no mar dos meus desertos,
Uma ilha.
Era de bruma.
Nem fontes, nem ribeiros,
Nem espinheiros
Abertos.
Melhor: coisa nenhuma!…
Só tinha num penedo
Alcandorada
Como um segredo,
Uma saudade antiga.
Ilha de areia, o mar depressa a come
E o criador da Ilha,
É bem que o diga:
Morre de fome.
Ilha do mar desabitada
E eu…
Ilha do mar e nada,
Morreu
O Eu-não-eu.
Coelho de Sousa,
Atlântida,
União Gráfica Angrense, Angra do Heroísmo,
Agosto / Novembro
———————————
Coelho de Sousa(1924-1995)
Padre, jornalista, poeta,professor, natural da Vila São Sebastião, Ilha Terceira.Trabalhou em Angra do Heroísmo e na vila natal onde sempre residiu e veio a falecer.
___