Linhas para um retrato de poeta quando jovem
Este poema é das saudades e do sol-posto.
E da procissão do Senhor, de colchas nas varandas.
E de quando eu tinha as mãos postas
que a minha mãe veio e me pôs umas asas brancas.
E das horas gastas esperando o teu regresso.
E das idas clandestinas e do caminho andado.
E da janela, aberta para os muros, que enchia
de sombras as recordações do meu quarto.
Este poema é dos vidros partidos
pelas pedras que atirei aos meus amigos
nos combates havidos nas travessas.
E da chuva que caiu nas colchas das varandas.
E das mãos que vieram tirar-me as asas brancas.
E dos olhos de minha mãe, quando eu parti para longes terras…
Da flor do arco-íris as pétalas
da flor do arco-
-íris as pétalas
caem no mar ao longe abertas
que um delíquio espasma
e o marítimo aceno
da asa de um barco
instila na alma
como um veneno
o ingénuo sonho
Destino
Ninguém sabe
o destino da vida
nascida
Nem o Tempo
Ninguém sabe
o destino do dado
lançado
Nem a Sorte
Ninguém sabe
o destino da folha
caída
Nem o Vento
Ninguém sabe
o destino da vida
perdida
Nem a Morte
“Linhas para um retrato de poeta quando jovem” 1ª edição in O Rei Lua, Coimbra, 1955; 2ª edicão in Os Silos do Silêncio Poesia (1948-2004). Lisboa: Imprensa Nacional, 2005:99.
“Da flor do arco-íris as pétalas” 1ª edição in O Rei Lua, Coimbra, 1955; 2ª edicão in Os Silos do Silêncio Poesia (1948-2004). Lisboa: Imprensa Nacional, 2005:117.
“Destino” in 1ª edição no “Caminho para o Desconhecido”, 1952; 2ª edicão in Os Silos do Silêncio Poesia (1948-2004). Lisboa: Imprensa Nacional, 2005:78.