Política, políticas, politicagem
Jurei que, até a eleição, não falaria de política. Diariamente controlo-me para não curtir no Facebook comentários agressivos aos candidatos nos quais não votarei. Exceção à dona Dilma, claro, é impossível deixá-la em paz. Nunca antes, na História deste país, tivemos uma presidente tão desastrada. A única mandatária que assistiu ao seu último desfile de Sete de Setembro com a faixa presidencial atochada no corpo. Ou ela cresceu ou a faixa encolheu. Mas custava ter mandado confeccionar uma nova? Confesso meu abalo: temi que, num gesto mais abrupto, a faixa a enforcasse. Graças a Deus, dona Dilma se salvou. Um alívio. Não gosto da presidente, mas jamais lhe desejaria desenlace tão dramático.
De resto, ninguém pode falar de mim. Tenho me comportado de acordo com a moral e os bons costumes, respeitando os candidatos dos amigos. Mas é impossível não voltar a falar de política, o Brasil não dá folga. Como não comentar o escândalo da Petrobrás? Bilhões. O PT, o PMDB e o PP roubaram bilhões de dólares. Chega a ser inimaginável. Lembro-me de uma época em que um conhecido senhor paulista surrupiou alguns milhões e eu fiquei em estado de choque. Bons tempos…
Coitado do Maluf, virou fichinha perto dos gatunos contemporâneos, deveria ser julgado pelo Tribunal de Pequenas Causas. E o infeliz do Collor, meu Deus? Sofreu impeachment por causa de um Fiat Elba, se duvidar de segunda-mão. Bem, ao menos foi a desculpa oficial, não conheço os bastidores. Se, no patropi, não valessem dois pesos e duas medidas, que castigo seria suficiente para punir os atuais estelionatários? Entregá-los ao Estado Islâmico? Condená-los ao exílio perpétuo no Polo Sul, ao ar livre? Levá-los às fogueiras da Inquisição? Que nada, tais detalhes – roubos, mentiras, sujeiras, assassinatos, corrupção deslavada – não comovem mais o meu povo. Fico eu, e alguns outros tolos, berrando sozinhos, à toa. Tudo continuará com antes. Sinceramente, sinto uma enorme tristeza. Minha vontade é sumir do Brasil. Paizinho de merda, sô…
Aproveitando o embalo: lembro ao meu candidato, doutor Aécio Neves, que o seu desejo é presidir a esbórnia chamada Brasil, não tomar chá com a rainha da Inglaterra. Se continuar tão educadinho, vai rodar no Primeiro-Turno. Por favor, Aécio, enfrentando hienas, comporte-se igual a elas. Hienas entendem de carniça, não adianta oferecer caviar. Você escolheu uma guerra que, infelizmente, é suja. Trate, pois, de encará-la comme Il faut.
Passemos ao horário eleitoral obrigatório. Um circo. Se vamos contar com os elementos – isso mesmo, elementos – que se apresentam como salvadores da pátria, o Brasil não terá jeito nos próximos 50 anos. Há de tudo: um candidato pequeno mínimo – ou algo que o valha –, o Toninho da Padaria, o Elias da Van, o Pudim, o pão doce, o marceneiro, a fulana do tempero, o cara-pintada. Enfim, palhaços para todos os gostos. Há, inclusive, um candidato que vomita na câmera para expressar o seu nojo com a política atual – arghhhhh, constrangedor. Se já não soubesse em quem votarei para deputado estadual, escolheria o Capitão Fulano de Tal, do Corpo de Bombeiros, que há 158 anos defende a minha vida e as minhas supostas propriedades. Como este que é um pronome que se refere ao capitão Fulano de Tal e não à Instituição Bombeiros, entrei em êxtase. Quem será o geriatra de tão valoroso homem, o nosso Highlander? Se, por acaso, o capitão estiver lendo estas mal traçadas linhas, por favor, envie-me o endereço do astuto doutor. Também quero ficar para semente.
Algo me diz que está na hora de convocar o Sigmund Freud para colocar ordem nas nossas eleições presidenciais. Tanto, mas tanto assunto importante – a economia, que vai de mal a pior; o precaríssimo sistema de saúde; a recessão; a roubalheira institucionalizada; os índices educacionais que pioraram; a política externa, que ninguém fala e tanto me preocupa – e os candidatos perdem tempo discutindo a sexualidade alheia? Gente, que coisa mais provinciana. Se formalizarem o casamento homoafetivo, eu, com certeza, não me casarei com um gay. Salvo se ele/ela ganhar sozinho a Mega-Sena da Virada (sem duplo sentido, por favor). Mas aí, seguramente, quem não vai querer casar comigo será o(a) novo(a)-rico(a), no que fará muito bem. Há muito passei dos 40 anos, a grana pode ser melhor empregada. Fora de brincadeira, essa história do casamento homossexual já deveria ser página virada. O tempo passa, o tempo voa e nós continuamos nesse mimimi? Poupem-me. Legalizem o casamento e pronto. Não somos todos iguais perante a lei?
No mais, vou bem, obrigada. Assustadíssima com a eleição, com a política, as políticas e o excesso de politicagem. Ainda assim, apostando na vitória do meu candidato.
Nasci otimista, fazer o quê?
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Nota sobre a Autora:
Angela Dutra de Menezes é carioca. Jornalista e grande romancista brasileira.
Produção Literária:
O Incrível Geneticista Chinês (2012)
A tecelã de sonhos.(2011)A tecelã de sonhos(2011)
Todos os dias da semana (2003)Todos os dias da semana (2003)
O português que nos pariu,(2000)
O avesso do retrato: romance.(1999).
Santa Sofia (1997)Santa Sofia (1997)
Mil anos menos cinquenta: uma viagem através das gerações de uma família de Coimbra(1995)