Porque é bom visitar Portugal?
Porque é bom. E diferente. Portugal é um labirinto de surpresas. Num rectângulo tão pequeno elas surgem a cada esquina. As melhores não vêm nos mapas dos circuitos turísticos. Portugal é de pequenos prazeres, não de espectacularidades. Fê-las há quinhentos anos, mas deixou-se disso. Passou a chama olímpica a outros e recolheu-se à serenidade da sua casa, a contemplar o Atlântico como em aposentação sábia e eterna. Portugal cultiva os recantos íntimos, a cor suave de uma tarde de luz serena e doce sobre uma praça harmónica e antiga onde um copo conversa com um livro. Nenhum prospecto turístico pode captar a luz de Lisboa, clara e aberta, mas fagueira e cálida. Ou o prazer de subir no eléctrico da Baixa até à Graça, passear nas margens do Tejo Alcântara fora em direcção ao pôr-do-sol, espraiar-se na amplidão da Lisboa dos Descobrimentos, entre os Jerónimos, o Padrão (não esqueça subi-lo) e a Torre de Belém. Sintra e o Castelo dos Mouros à tarde. Seguir viagem costa arriba até Azenhas do Mar, Ericeira e sempre, sempre. Não venho duplicar os roteiros turísticos, antes lembrar decisões importantes. Primeira: quantos dias passar em Lisboa e quantos consumir fora dela. Segunda: optar pelo Norte ou pelo Sul. Terceira: No Sul, o Alentejo, ou o Algarve?
As cidades e aldeias alentejanas com a sua personalidade ímpar de cal branca e luz ampla são lugares onde o ritmo é para quem gosta de regressar ao passado em beleza; Évora, Monsaraz, Marvão, Castelo de Vide, Vila Viçosa. Chegue perto de Espanha mas resista. Guarde essa visita para outra altura. Regresse a Ocidente, que o Alentejo imenso não parará de surpreendê-lo. Se optar pelo Norte, avance Porto acima mas antes salte até Gaia para de lá contemplar a cidade. Explore o rio Douro. De comboio, de barco ou de carro. As belas margens onde nasce o vinho do Porto sabem tão bem como ele. Caminhe Norte acima. Amarante. Ponte de Lima, Braga, Guimarães, Valença, Monção, Viana, o Portugal matriz do mágico barroco brasileiro está todo ali: o casario branco ornado de granito, com aquele toque leve, suave, gostoso de um português meigo que não se dá bem com o exagero. E sempre que vir sinais para uma pousada, entre. Mesmo que a sua bolsa não consiga esticar para cobrir a noite, sente-se no bar com um simples cocktail. Ninguém vai incomodá-lo nem exigir cartão de hóspede. Descontraia e aprecie o bom gosto da conversão de um castelo ou convento medieval em espaço moderno que soube reter o tempo. Portugal é para se tomar aos poucos, sem pressa. Deixe–a aos portugueses jovens que hoje querem ultrapassar a modernidade.
Não falei dos meus Açores (por ser suspeito), nem da Madeira. Isso são outros mundos. Se tem apenas uma semana, não aconselho misturá-los. Ao tentar juntá-los todos no mesmo pacote perderá o melhor deles. A paisagem de Portugal não é para se engolir. Degusta-se devagar, aos goles. E isso requer tempo. Na Madeira e nos Açores ainda mais tempo será preciso. Porque se estiver com pressa, siga para Nova Iorque ou Londres. Não convém atrapalhar as ruas de Portugal. Para isso já bastam os condutores portugueses.
Onésimo Teotónio Almeida