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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de PRECES- Mário T Cabral
Comunidades 06 dez, 2014, 15:01

PRECES- Mário T Cabral



PRECES
Mário T Cabral

     Acaba de ser lançado, em Portugal, um novo livro de Flannery O’Connor: Um Diário de Preces (Relógio d’Água). Trata-se de um caderno de orações, que a escritora manteve, nos tempos da faculdade, de janeiro de 1946 a setembro de 1947. Metade do livro português é ocupado com este “Sterling Note Book” fac-similado, o que é deveras importante para os estudiosos.
     O facto de um livro deste jaez ser publicado no nosso país, na atualidade, é, só por si, evento notável. Flannery O’Connor é uma autora católica explícita e Portugal tornou-se, no último século, um país praticamente anticatólico, em termos de arte e literatura. Claro que há a excelência da autora, que é, nada mais nada menos, a maior escritora americana do séc. XX. Também Graham Greene está publicado, e é católico, hão de contra-argumentar; e Evelyn Waugh; e Tolkien… pois… mas dizia uma editora, um destes dias: “Até podem ser católicos; não se pode é saber”. Este é um livro de preces! E não são preces de Santa Teresa de Ávila ou São João da Cruz ou John Donne! É um fenómeno, portanto! Portanto, parabéns a Pedro Mexia (responsável pela coleção e quem assina o prefácio) pela coragem da liberdade.
     Alguns contos de Flannery O’Connor estão traduzidos – também, era só o que mais faltava não estarem! Ela é justamente conhecida pela sua mestria de contista. Morreu muito nova (39), de lúpus, deixando apenas dois romances e trinta e um contos, para além de muitas cartas e ensaios. Em meia dúzia de páginas cria personagens absolutamente reais, embora bizarras, com a excentricidade típica do sul (o chamado “grotesco sulista”… ela era georgiana). Muitas delas são perversas, más a um ponto insuportável, muito distantes da Graça. São contos difíceis de ler, nada delicodoces, nada de catequista.
     Aliás, Flannery O’Connor tem ensaios inolvidáveis sobre o que é ser um autor católico. Por um lado, há a obediência ao Credo, a que nenhum batizado pode escapar – o escritor católico está sempre com medo de faltar à verdade da sua fé. Isto pode parecer uma autocensura. Por outro lado, há a recusa do público ateu, que basta saber que um autor é católico para nem o ler, com medo de ser evangelizado. Não pode ser moralista, mas também não pode comprazer-se na finitude sem esperança. O caminho dela foi muito inteligente: mostrar o resultado da Queda, o resultado da distância em relação a Deus, numa palavra, a separação da natureza e da Graça (que o autor católico tem sempre de apresentar como pecado).
     Aliás, a Graça é, nestas preces, um dos temas mais fortes. Comove ver a autora, ainda tão jovem, pedir forças a Deus para fugir à vulgata freudiana do seu tempo. Escreve desabafos desta ordem: “Por favor, deixa que os princípios cristãos impregnem a minha escrita, e, por favor, faz que haja textos suficientes da minha lavra (dados à estampa) para que os princípios cristãos os possam impregnar.”(p.19). Ou, ainda mais clara: “Tenho de escrever que irei tornar-me artista. Não no sentido da fancaria estética […] A palavra engenho cobre o ângulo do trabalho e a palavra estética cobre o ângulo da verdade.” (p.41). A expressão “fancaria estética” é delirante”. É o que mais há por aí, nos génios-cogumelos dos nossos dias. Estética implica verdade; e engenho, trabalho. É uma teoria!
     Entre as muitas maneiras de refrescar o Natal, uma das melhores poderá ser ler este livro. Dá para ler numa noite, na de Consoada, por exemplo, enquanto se espera pela missa do Galo.

Mário Cabral Natural da Terceira, Açores, é Doutor em Filosofia Portuguesa Contemporânea, pela Universidade de Lisboa, com Via Sapientiae – Da Filosofia à Santidade, ensaio publicado pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda (2008). Para além do ensaio, publica poesia e romance. O seu livro de ficção, O Acidente, Porto: Campo das Letras, ganhou o prémio John dos Passos para o melhor romance publicado em Portugal em 2007. Está traduzido em inglês, castelhano e letão. Também é pintor.
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