PREFÁCIO
O exílio de Carlos e Zita de Habsburgo, no primeiro quartel do século XX,
constitui referência incontornável da História da Madeira.
A antologia de Duarte Mendonça resgata do esquecimento notícias divulgadas
pela imprensa regional acerca da presença, entre nós, de tão insignes personalidades.
Através desta obra temos a rara oportunidade de regressar a 1921-22 e reler o
que foi publicado em diversos órgãos informativos insulares, a maioria dos quais
actualmente inexistentes, acerca dos Imperadores da Áustria e Reis da Hungria,
aquando da sua estadia na ilha da Madeira como exilados. Fruto de intenso trabalho
de pesquisa na colecção dos antigos jornais da Biblioteca Municipal do Funchal e
do Arquivo Regional da Madeira, o autor não se limitou apenas a transcrever os
diversos textos, mas efectuou também aturada investigação em outras fontes, de
modo a anotá-los e, dessa forma, enriquecê-los com interessantes notas de pé de
página.
A nível iconográfi co, destacam-se as fotografi as gentilmente cedidas pela
Photographia-Museu “Vicentes” e outras compiladas pelo autor, que nos ajudam a
reconstituir o itinerário da Família Imperial Austríaca na ilha.
Diversos anexos, dos quais salientamos correspondência emitida pelo Governo
Civil do Funchal, testemunhos sobre a presença dos Imperadores na Madeira, a
sua relação com a Madre Virgínia Brites da Paixão e ainda os respeitantes às visitas
ulteriores da Imperatriz Zita à Madeira, fazem incidir nova luz sobre alguns aspectos
menos conhecidos da passagem destas ilustres personalidades pelo Funchal.
A presente obra, Carlos e Zita de Habsburgo: Crónica de um Exílio Imperial
na Cidade do Funchal, reveste-se de importância fundamental para o melhor
conhecimento dos últimos meses da vida do Imperador Austro-Húngaro, passados
na Madeira, a sua terra de exílio, na medida em que apresenta novos dados, muitos
dos quais desconhecidos até ao presente e, portanto, não referidos na bibliografi a
sobre o último soberano da dinastia de Habsburgo. Paralelamente, revela
informações pertinentes sobre a vida da Imperatriz Zita, a sua fi el companheira,
que passou, na pitoresca freguesia do Monte, por um indizível calvário de dor com
a morte do seu esposo, a 1 de Abril de 1922, numa altura em que tinha sete fi lhos nos
braços e outro no ventre. Para além disso, infere-se, igualmente, a extraordinária
prova de solidariedade do povo madeirense, que partilhou o seu infortúnio e tudo
fez para o amenizar.
As bibliotecas não são meros depósitos de livros. Ao invés, são organismos vivos,
procuradas por diversos investigadores e onde trabalham pessoas com formação
e sensibilidades diversifi cadas. Quando o nosso colega Duarte Mendonça nos
propôs a elaboração desta obra, apoiámo-lo desde a primeira hora, na certeza de
que seria capaz de produzir um livro de referência, como tem sido seu apanágio. E,
deste modo, a Biblioteca Municipal do Funchal orgulha-se do facto de um dos seus
funcionários ter dado este importante contributo para a Cultura, ao proporcionar a
todos os leitores conhecimento mais aprofundado acerca do exílio de Carlos e Zita
de Habsburgo no Funchal.
Alexandra Canha
Directora da Biblioteca Municipal do Funchal