Logo mais à meia-noite, estaremos assistindo à passagem do ano, com sensações variadas, dependendo do ponto de vista de cada um. Foi pior ou melhor do que os anteriores? A julgar pela análise de observadores, ele não deve deixar saudades em matéria de política e de economia. O saldo é negativo.
E 2015, segundo os prognósticos, vai ser pior, a crise tende a se agravar. As promessas para daqui a pouco são de cortes, ajustes, rigor, equilíbrio etc. Dilma deverá sentir saudade do primeiro ano de seu primeiro governo, quando o encerrou com a avaliação recorde de 71%, superior à de Lula (69%) e FH (57%). Bons tempos aqueles.
Em uma de suas previsões, Xexeo anunciou que, depois dessas medidas iniciais, inclusive a escolha do ministro da Fazenda, a presidente vai confessar que votou em Aécio Neves. A sério, as perspectivas são sombrias.
No entanto, uma pesquisa recente sobre o ânimo dos brasileiros revelou que 93% dos entrevistados acreditam que terão uma vida melhor no ano que vem e, já agora, 80% se consideram “felizes ou muito felizes”.
Como se explica essa satisfação e esse otimismo em face de uma situação tão pouco promissora? Alguém deu uma explicação que pareceu razoável: as expectativas e percepções pessoais têm a ver com a vida de cada um e isso nem sempre coincide com a trajetória do país.
Ou seja, uma coisa é a nossa história particular e outra, a História maior, coletiva. O egoísmo individual julga que, se está bem com ele, está com todo mundo.
Na série “eu não esperava viver para ver”, 2014 apresentou boas e más surpresas. Houve acontecimentos inéditos aqui e lá fora: a derrota de 7 x 1 da seleção do Brasil para a Alemanha, a prisão de poderosos empresários envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras e o reatamento das relações entre EUA e Cuba depois de 50 anos.
No cenário internacional, a maior afronta ao mundo civilizado foi o genocídio perpetrado pelo hediondo Estado Islâmico, que em apenas seis meses decapitou ou espancou até a morte quase duas mil pessoas na Síria, expondo as execuções na internet, como orgulho exemplar da barbárie.
Enfim, não peço muito para 2015, até porque neste de agora não fui atendido nos poucos pedidos que fiz. Desejei coisas simples como ordem no caos urbano, menos violência, não precisar embarcar (ou desembarcar) no Galeão e no Santos Dumont em dia de calor, isto é, todo dia.
E finalmente pedi que o Rio continuasse lindo e adorável, e mais ameno. Nem isso consegui. Como se vê, o verão de 2015 está mais quente do que o que passou.
Se eu tivesse prestígio, pediria para vocês, queridos leitores, um Feliz Ano Novo.
ZUENIR VENTURA,
(*) Escritor,membro da Academia Brasileira de Letras
Crônica publicada no “O Globo”mRio de Janeiro,edição de 31/12/2014.
Fonte Imagens – http://upmagazine-tap.com/pt_artigos/acores-palavras-do-atlantico/