Há trinta e oito anos vivo em Florianópolis, na Ilha de Santa Catarina, onde construí minha família e realizei a minha vida acadêmica como professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Catarina.
O tempo, como uma onda gigantesca impelida pelo nosso Vento Sul levou-me por muitos caminhos do mar e em barco alado do imaginário me desaguou numa outra ilha ou me regressou à ilha açoriana da minha memória, do mesmo jeito como fala o poema-oração de Sophia de Mello Breyner: Onde o que estava lavado se relava para o rito do espanto e do começo. Onde sou a mim mesma devolvida em sal, espuma e concha regressada à praia inicial da minha vida.
Assim, já não é novidade para ninguém que escrevo da Ilha de Santa Catarina, do outro lado do Atlântico, do Brasil Sul, da América Latina, da Latitude, 27° a milhares de quilômetros de distância, o mundo real. Pois, o virtual da tecnologia coloca-nos face to face e a um simples toque de uma tecla elimina distância e aproxima geografias, tudo em tempo real. Na real e no virtual tenho insistido no diálogo plural sobre as vivências e experiências de todos nós. Um diálogo gostoso, fraterno, respeitando as nossas diferenças de "ser e estar", mas com frontalidade sempre. Um debate aberto sobre as questões culturais que interessam as nossas comunidades, abrangendo registros de memória, as tradições, o saber popular, o patrimônio imaterial, a criação artística e literária e as dificuldades na sua difusão, as ações e os intercâmbios culturais tendo como fio condutor desse grande entrelaçamento de idéias – os Açores.
A proposta deste blogue Comunidades inserido no site da RTP-Açores, será como um abraço gostoso unindo as duas margens do Atlântico com post recheados de afetos, aproximando mundos que partilham histórias e identidades culturais comuns. Um diálogo aberto onde a palavra navega liberta por distantes geografias e latitudes, dirigido a um internauta-leitor curioso em conhecer a vida catarinense, no Sul do Brasil, as nossas realidades tão diferentes e tão semelhantes em sua essência. Um espaço que fala de encontros e desencontros que deixa fluir o livre pensar por veredas e canadas da diversidade e na aventura da descoberta, alicerçada em sentimentos e em laços históricos e culturais que nos unem de forma fraterna aos Açores.
Florianópolis, Ilha de Santa Catarina,29 de fevereiro de 2008
Lélia Pereira da Silva Nunes,
Uma açoriana de 260 anos