Guardo nas gavetas
que não sei abrir
memórias de criança
que o tempo tempera;
atrás dos meus olhos
descansam memórias
de um azul intenso,
de um azul imenso
com o mar, sempre o mar,
à minha espera;
saboreio o vento
e a maresia,
rebolo no verde profundo
e limitado
por flores redondas cor de céu,
e sinto a água quente e luminosa
passar pelo meu corpo
onde o sonho impera,
onde o sonho é meu!
Tempestade
O porto veste-se de espuma,
e o vento assobia;
o mar, cinzento-escuro e branco
ressona, alto como um muro
rodeando o espelho da baía;
chovia,
as luzes no céu negro estralejavam
e estremeciam num rebolar de encanto
enquanto eu,
lá em cima no mirante,
chocada de espanto,
ria.
Raquel Oliveira, Inéditos