Açorianidade – 208 [Rodolfo Begonha, “Nove sorrisos de liberdade”. Orfeão Edmundo de Oliveira, “O Boi do Mar”]
2014.10.18
respira
o perfume salgado
do centro de tudo
e, deixa
o pico mais alto
digerir-se no longe, enevoado
lembra
o intenso choro da terra
a nostalgia dos ilhéus
e, canta
como o vento entre canais
não chores tu
vai
nas espumas
efémeros desenhos, salpicados
e, entrega-te
a esse azul escuro, profundo
sem fronteiras
segue
as asas livres de cagarros
passageiros do mar alto
e, segura
o inesperado triângulo escuro
tubarão, rompendo a pele do mar
agarra
as asas de todas tartarugas
que te derem boleia
e, capta
o branco ápice
ventre de golfinho, quase miragem
voa
com a rósea dança pulsante
do tapete de águas vivas
e, salta
como peixe marinheiro
voador dos oceanos
surfa
nas tempestuosas vagas
de Neptuno pigarreando
e, abraça
os traquetes de atuns
perseguindo desígnios geográficos
fixa-te
na imensidão desse olhar
buscando sopros de baleia
e, entra
nos sulcos de vida
lendas desse lobo do mar
acredita
que ao fundo vês a América
ou talvez não…
e, sente
não abandones o sonho
não caias na insularidade do teu (próprio) abismo
Rodolfo Begonha, Inédito
Rodolfo Miguel Dinis dos Santos Bacelar Begonha (1965), sociólogo, gestor de recursos humanos, açoriano de afeição, reside e trabalha em Lisboa de onde é natural.