Sol-Pôsto
É ao tombar da noite, tarde ainda,
Quando as sombras dos Longes vêm descendo
Sôbre os montes, e as coisas vão perdendo
A sua côr real, intensa e linda…
É a hora do Ocaso, hora em que finda
Tôda a labuta, quando se escondendo
O Sol, no Adeus final, a terra vendo,
Tem síncopes de luz na treva infinda!
Hora crepuscular e transitória,
Em que a Alma das coisas se transporta
A um mundo aéreo, a estância perfumada…
— Sol-Pôsto! Extrema-Unção do dia, e glória
Da noite perpetuando a vida! — porta
Aberta sobre o pélago do Nada!…
Ruy Galvão de Carvalho,
Sol – Pôsto,
Angra do Heroísmo, Livraria Editora Andrade, 1935.
Rui Galvão de Carvalho (1903-1991) professor, escritor, poeta, nasceu na freguesia de Rabo de Peixe, residiu, trabalhou e faleceu na cidade de Ponta Delgada, ilha de S. Miguel.
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