APRESENTAÇÃO
O que faz com que alguém se torne um crítico literário? Paixão pelos livros, gosto pela descoberta das marcas que cada autor neles deixa, dos detalhes dos enredos e da linguagem, prazer em se debruçar na análise desses textos e de compartilhar com outros leitores seus achados? Lauro Junkes, Mestre em Literatura Brasileira e Doutor em Teoria da Literatura, professor do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas da Universidade Federal de Santa Catarina, responderia Sim à questão: ele vivia essa paixão, esse prazer dos detalhes e de comparti-los com seus alunos, com seus leitores, crítico literário que era.
De sólida formação intelectual, pesquisador incansável, descobriu o quanto a literatura catarinense era desconhecida – ou ignorada – pelos próprios catarinenses. Inconformado com isso, procedeu ao levantamento da produção de nossos escritores, dedicou-se à leitura de seus livros, esmiuçando as entrelinhas dos diferentes textos. Pesquisou escritores há muito desaparecidos de nossa memória, apresentou nomes novos, deixou-nos um painel do fazer literário barrigaverde.
Lutou pela valorização de nossos autores e de suas obras, o que se deu em várias frentes: nas pesquisas e na análise crítica dos textos encontrados; na implantação da cadeira Literatura Catarinense, na Universidade, a fim de que os acadêmicos de Letras pudessem conhecer – para valorizar – nossa produção literária e, posteriormente, se professores, levá-la a seus alunos; na divulgação dessa produção pelo Estado, por meio de palestras em escolas, principalmente do Ensino Médio, e da publicação de artigos críticos em jornais; na organização e publicação de antologias de autores catarinenses; em outras diferentes e importantes iniciativas, como no resgate de obras inéditas de imortais da Academia Catarinense de Letras, de que foi membro e, depois, Presidente.
A literatura infantojuvenil também mereceu de Lauro Junkes uma reflexão crítica. Ele mostrou que a identidade catarinense se encontra não apenas na literatura dita para adultos, mas igualmente na linguagem e no estilo dos textos voltados – por sua extensão e tema – para crianças e jovens. Discorreu sobre títulos de escritores com obras consagradas por aquele público, como Amílcar Neves, Deonísio da Siva, Edla Van Steen, Lausimar Laus, Ricardo Hoffmann. Debruçou-se sobre Gran Circo das Américas, a primeira publicação literária do que se tornaria o autor catarinense mais premiado do país, Cristovão Tezza. Chamou a atenção para os textos de Sérgio Jeremias de Souza e do consagrado Werner Zotz. Não esqueceu os vencedores do concurso promovido em 1984 pela LADESC- Liga de Apoio ao Desenvolvimento Social de Santa Catarina, a iniciativa de Ipumirim, município do meio-oeste catarinense, pela valorização da leitura e da literatura entre os alunos de sua rede escolar, nem as peças vencedoras do Concurso Estadual de Dramaturgia – Categoria Infantil, de 1980.
Ele sabia da importância da leitura para a formação do leitor, a partir do ambiente escolar, razão por que visitava escolas, geralmente acompanhado de outros membros da Academia: conversava/dialogava com professores e alunos, a respeito da necessidade do livro, da literatura na e para a sociedade e para o próprio indivíduo. (Ele sabia também que, infelizmente, por questões financeiras ou descaso, no ambiente doméstico o acesso aos livros nem sempre é facilitado.) Abordava as obras dos autores nascidos em Santa Catarina ou aqui estabelecidos, lembrando que um livro é bom por suas qualidades literárias – quando, aliado a isso, for de autor terra, merecia/merece maior apoio e divulgação.
Colega de Lauro Junkes na UFSC, conheci seu amor à literatura catarinense, seu entusiasmo em torno da difusão de nossas letras e seu respeito pela literatura voltada para crianças e jovens. Fico feliz com a iniciativa de outra colega, sua esposa Terezinha, de reunir uma parte da produção desse estudioso e apresentá-la neste volume.
Maria de Lourdes Ramos Krieger Locks.
(*) Nota: A autora é uma das mais importantes escritoras da literatura infanto-juvenil de Santa Catarina. É professora da Universidade Federal de Santa Catarina.
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