“Arquipélago”
de Joel Neto
ed. Marcador, Maio 2015
(2.ª edição Junho 2015)
O LIVRO
No último paraíso da Terra, a meio caminho entre o velho e o novo mundo, as ventanias preparam a sua ofensiva. Ardem vulcões e terramotos, e é contra a morte que o povo festeja, eufórico, como se em todo o caso o fim estivesse próximo.
“Arquipélago” conta a história de José Artur Drumonde, um professor universitário em busca de uma tese de doutoramento. Depois de várias tentativas fracassadas, encontra o manuscrito de um cidadão inglês que passou pelas ilhas dos Açores em 1880, a bordo do SS Santa Helena, e se cruzou com uma estranha sessão justiceira em que José Artur Drumonde encontra ecos do mito da Atlântida.
Nascido naquela mesma ilha há 44 anos, ele abandonara-a na companhia dos pais após o brutal terramoto de 1980, o maior ocorrido em solo português desde o terramoto de 1755, em Lisboa. E, ao mesmo tempo em que investiga o fenómeno que talvez possa levá-lo à tese de doutoramento ideal – a sociedade perfeita, a utopia e o absoluto –, rapidamente dá por si a seguir as pontas soltas da sua própria partida, 35 anos antes, no rescaldo da grande catástrofe.
Ademais, e durante o terramoto de 1980, ele não fora capaz de sentir a terra tremer debaixo dos seus próprios pés. Desde então, essa incapacidade, que os médicos nunca conseguiram explicar, fá-lo sentir-se desligado da matéria – um homem incompleto. A essa incompletude atribui ele, de algum modo, o seu fracasso como pai, como marido e como homem: o seu casamento ruiu há muito, a sua relação com o filho já adulto é praticamente uma inexistência e a sua carreira profissional está em risco.
O ponto de partida do romance é o reaparecimento, na ruína da casa dos avós que ele pretende agora reconstruir, da ossada de Elisabete, uma menina de que foi amigo em criança, e cujo súbito desaparecimento, quase 40 anos antes, confunde com o fim da sua própria infância. Ao mesmo tempo, ele vai encontrando pedaços dessa criança noutra menina ainda: a filha da senhoria em cuja unidade de turismo rural se alberga ao chegar, e por quem se apaixona.
Investigação académica, investigação criminal e esforços amorosos decorrem lado a lado, ao mesmo tempo que José Artur se vai reinstalando no lugar da sua infância e recuperando os gestos, os objectos e a casa dos seus antepassados. O processo não é isento de dor. O filho visita-o e parte após uma discussão. Luísa, a senhoria e objecto da sua paixão, vai casar com outro homem. E, ademais, o seu próprio avô – o avô perfeito e bondoso da sua infância – é aquele sobre quem recaem as primeiras suspeitas do assassinato da pequena Elisabete.
Mas a ilha, capaz de renovar-se a cada instante, de resistir a terramotos, vulcões e tempestades, também lhe oferece os seus trunfos: como Elias Mão-de-Ferro (um criador de gado solitário e sábio), Cabrinha e La Salete (pai e filha, taberneiros locais) ou Papillon (o cão cujo milagroso surgimento, num certo dia de desespero, o salva da morte). E é no ódio entre duas famílias rivais – uma das quais a sua própria – que José Artur Drumonde encontra a ponta do novelo que lhe permitirá desfazer o nó que há muitas décadas lhe aperta a garganta e, assim, obter a sua redenção.
Pelo meio, há personagens exóticas, rituais de sacrifícios, uma organização independentista, paisagens arrebatadoras, mistérios insondáveis e uma razoável suspeita de que, muito antes da chegada dos navegadores e dos primeiros colonos portugueses, as ilhas foram habitadas por outros povos, dotados de uma sabedoria ecológica e tecnológica verdadeiramente precoce.
Mas há mais: há tempestades, epifanias, gastronomia – muita gastronomia –, episódios infelizes de relações entre pais e filhos, episódios redentores de relações entre pais e filhos, novos modos de vida rural, técnicas de agricultura doméstica, pequenos compêndios de fauna e de flora, tentações esotéricas, reflexões sobre o mui subversivo culto do Espírito Santo e um amor impossível que, afinal, pode não ser tão impossível quanto isso.
Tudo na mesma ilha Terceira de que talvez Homero tenha falado quando, na Odisseia, se referiu à “terra dos feácios”, que “parecia um escudo no mar brumoso”. A mesma onde, em 1971, Nixon e Pompidou se reuniram para desvalorizar o dólar e combater as estratégias da OPEP. A mesma onde, em 2003, Bush, Blair e Aznar se juntaram para mandar invadir o Iraque. No mesmo arquipélago de onde no século XIX chegavam alguns dos mais valentes baleeiros sobre que Melville escreve em Moby Dick.
Arquipélago é narrado pelo próprio filho de José Artur Drumonde, circunstância que, na verdade, só se percebe no epílogo. Já descrito como o livro que introduz o tema do “regresso” na literatura açoriana e portuguesa, tanta dela feita de partida, é na verdade um romance de formação – de uma formação tardia, como só o século XXI permite (no que será talvez a sua maior virtude). Nascido de uma catástrofe e desenvolvido ao mesmo tempo como um mistério e uma história de amor, tem talvez tanto de Jonathan Franzen como de Carlos Ruiz Zafón – com uma pitada de realismo mágico e outra de enredo clássico –, sem que, no entanto, deixe de ser aquilo que ele mesmo é: um romance uno e harmonioso, de que, se calhar, é a própria ilha a grande protagonista.
A RECEPÇÃO
Arquipélago foi publicado na colecção Livros RTP, para que foi seleccionado pela estação pública de televisão portuguesa
Foi distribuído a 20 de Maio de 2015 e chegou ao top10 (7º lugar) das vendas da Bertrand, a principal cadeia de livrarias portuguesa, em apenas cinco dias; e ao top5 (5º lugar) das vendas da Fnac, a segundo mais importante cadeia portuguesa, em dez dias
A segunda edição foi lançada no mercado no dia 4 de Junho de 2015, portanto ao fim de duas semanas
As primeiras reacções críticas publicadas foram altamente favoráveis:
«Excepcional. Obras de tão superior qualidade como este Arquipélago não acontecem todos os dias. Nem todos os anos. Notável.» João de Melo
«Um belo romance [sobre] as ilhas de todos os mistérios e maravilhas, os Açores. Uma teia muito bem conseguida. Fascinante.» Fernando Sobral (Jornal de Negócios)
«Uma celebração dos Açores, com todas as suas nuances, especificidades, cores, histórias e silêncios.» Luís Ricardo Duarte (Jornal de Letras)
«Magnífico. Não creio que possa ser facilmente ultrapassado entre nós na sua dimensão formal e temática, na expansividade da sua narrativa, no inter-relacionamento das inúmeras personagens de várias gerações, no mistério tornado história plausível, no seu profundo diálogo com toda a tradição literária açoriana.» Vamberto Freitas
«Uma belíssima geografia de recomeços. São silêncios como estes que nos agarram pela intimidade. E pela culpa.» Miguel Guedes
Joel Neto foi um dos cinco autores destacados na capa do Jornal de Letras a pretexto do arranque da edição 2015 da Feira do Livro de Lisboa
Arquipélago recebeu de imediato amplo acolhimento nos media portugueses, merecendo logo na primeira semana longas reportagens na esmagadora maioria do meios de comunicação social nacionais
As sessões de autógrafos de Joel Neto na Feira do Livro de Lisboa têm sido algumas das mais concorridas dos primeiros dias do evento
O AUTOR
Joel Neto foi jornalista de quase todos os principais jornais portugueses, onde trabalhou como redactor, editor, chefe de redacção e grande repórter
Hoje é colunista dos jornais Diário de Notícias e O Jogo, em cujos diferentes cadernos assina várias colunas diárias e semanais, dedicadas ao quotidiano, à cultura e ao futebol
Regressou às ilhas dos Açores em 2012, onde nascera e crescera, em busca do ideal da vida no campo, e é de lá que continua a escrever diariamente; a sua coluna diária “A Vida no Campo” (Diário de Notícias) tem obtido amplo louvor crítico, tanto da parte dos leitores, como da parte de jornalistas da imprensa, da rádio e da televisão
É autor de livros de diferentes géneros, inclusive vários volumes de crónicas, Joel Neto assumiu-se como escritor profissional precisamente em 2012, após aquele que considerou o último livro da sua adolescência criativa: Os Sítios Sem Resposta; Arquipélago é o primeiro resultado dessa investida profissional
O romance é o primeiro (e mais importante) de uma série de quatro livros em diferentes géneros que tem programados para um espaço de dois anos, e que inclui um volume de relatos, um folhetim e uma grande reportagem
Joel Neto é um autor com grande cuidado na relação com os seus leitores, partindo em permanência ao encontro deles, quer através dos media tradicionais, quer através de eventos literários, quer através das redes sociais