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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de SEGURA ESTE SAMBA E NÃO DEIXA CAIR…
Lélia Pereira da S.Nunes
Comunidades 06 mar, 2010, 02:00

SEGURA ESTE SAMBA E NÃO DEIXA CAIR… Lélia Pereira da S.Nunes

“Vai passar nessa avenida um samba popular,

Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar

Ao lembrar que aqui passaram samba imortais,

 Que aqui sangraram pelos nossos pés,

Que aqui sambaram nossos ancestrais.”

(Vai  Passar  de Chico Buarque de Holande/Francis Hime)

Enterra-se a tristeza. Inaugura-se dias de intensa alegria. É o reinado de Momo, o universo do pierrô e da colombina. Vive-se a magia do Carnaval. Por uma semana, ficam para trás as mazelas do cotidiano, dos escândalos políticos, da violência urbana, das calamidades públicas, dos desastres ambientais…Tudo vai para o ralo da impunidade ou se transforma em pilhéria, fantasia, chiste, marchinha satirizada de algum bloco de mascarados. Neste nosso universo tropical, vive-se até a quarta-feira de cinzas num país além da imaginação.
O país, literalmente, entra no ritmo da folia, da serpentina, do confete, do riso. Veste a fantasia verde amarela e cai no samba. Não o samba jogadinho para dançar abraçadinho. Mas o samba carnavalizado que diverte o Brasil do norte ao sul e que faz sambar suas cidades até o dia clarear. O carnaval do entrudo, dos blocos, do carro alegórico, do teatro de rua, das tradições culturais. O samba espetacularizado na grande avenida, passarela de desfiles monumentais das escolas de samba. É ali, entre plumas e lantejoulas, que reina absoluta a cabrocha que desce do morro gingando o corpo moreno e trazendo para a cidade o samba no pé, o samba rasgado ao som da cuíca, do pandeiro e do tamborim. “Não deixa o samba morrer, não deixa o samba acabar. O morro foi feito de samba. De samba pra gente sambar…”ensina a tradição do samba popular.
Oito semanas e duas luas cheias passaram desde a noite da virada quando, transbordando de esperança e promessas, saudávamos a chegada de 2010. No céus da Ilha, uma bateria de fogos de artifício iluminava a grande noite e junto à beira mar, entre ritos de passagem e muitos beijos, numa contagiante euforia, ouvia-se o estouro da champagne e o seu borbulhar esparramado. Uma profusão de brindes à felicidade para viver bem o ano que vem.

SEGURA ESTE SAMBA E NÃO DEIXA CAIR...
Lélia Pereira da S.Nunes

O ano novo nasceu numa sexta-feira – dia consagrado a Oxalá, sob o signo da Lua Cheia, acompanhado de todos os sortilégios para um grande recomeço. Para sair do casulo das desilusões, sacudir os paranhos dos cantos amargos, afugentar os restos de ontem, romper a nova aurora trazendo mais oxigênio à vida. Passo seguinte? Avançar pela vida com energia (desculpem mas, aqui, cabe bem dizer: com “tesão”) por todo o 2010 e por todos os anos que temos pela frente “respirando”. Fazendo o mais simplesmente possível, mas não o mais simplesmente do que isso, alerta o escritor português António Lobo Antunes em crónica na revista Visão (nov.2009). Está dito. Nem sempre a vida nos corre às mil maravilhas, mas é a nossa vida, o nosso tempo e ninguém vai vivê-lo por nós. Cada um vive o seu próprio momento, a sua existência, um tempo distinto de todos os outros homens. Viver intensamente todos os instantes como o puxador de um samba enredo: “sem deixar o samba cair” e amando muito. Afinal, a deusa regente de 2010 é Vênus ou Afrodite. E, segundo o horóscopo chinês, este é o ano do Tigre. Assim, no rugir do tigre as suas qualidades: coragem, ousadia, potência e paixão.
As idílicas previsões anunciam que Oxalá governará 2010 com os orixás: Iemanjá, rainha do mar, das águas salgadas, da fertilidade, do amor; Oxum, dona d`água doce, dos rios e cascatas e Oxóssi protetor das matas, da natureza, do conhecimento, da cultura. Mas, é também de Yansã, a menina dos olhos de Oxum, a senhora da guerra, dos ventos, da tempestade e da sensualidade. Entre tantas imagens míticas e previsões benfazejas e outras nem tanto, o futuro imaginado fala em recomeçar, recomeços, tentativas de recomeço. Outra vez, vamos cruzar os dedos e ir em frente fazendo acontecer,ousando e sambando.
Eta nóis,aí! Nada derruba a nossa fé e, sobretudo, a nossa alegria no carnaval. Nem os escândalos “esquecidos” sob panos quentes do passado quanto os de agora olhados com descaso e empurrados pela onda carnavalesca da folia brasiliense. Nem o desiquilíbrio climático causa do dilúvio que há quase cinquenta dias castiga com chuvas fortes, raios, ventos inclementes e calor escaldante o sul e o sudeste do Brasil. Sem dar trégua, os céus abriram suas torneiras, com especial furor, sobre São Paulo, uma intensidade que não se via há 60 anos. Ninguém supera a nossa marca de levantar, sacudir a poeira, dar a volta por cima e cair na folia.

SEGURA ESTE SAMBA E NÃO DEIXA CAIR...
Lélia Pereira da S.Nunes

Um mar de corpos em movimentos ritmados,em fantástica cadência e sintonia ganham a avenida. Magia. Corpo vira orquestra. É surdo, é tamborim, é pandeiro. É carnaval. “ A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval/ gente trabalha o ano inteiro/por um momento de sonho/Pra fazer a fantasia/ de rei ou de pirata ou jardineira/Pra tudo se acabar na quarta-feira” diz a canção “A felicidade” do poeta Vinícius de Moraes e Tom Jobim. Na real, o povo exorciza os seus fantasmas,lava alma, veste sua fantasia e liberta a alegria para além das cinzas.
Deixe-se levar pela corrente estonteante dos milhares de foliões, contagie-se com a vibração da bateria que faz pulsar a energia, solte-se nos volteios elegantes do mestre-sala e da porta-bandeira,uma mistura da delicadeza do “minueto” europeu com a dança sensual das senzalas, de coração aberto vá em frente e siga a trilha da maior festa do nosso povo – a grandeza do carnaval…
Na Amazônia inventaram o “carna-boi”,um prolongamento do Boi de Parintins, a colidir com a percussão indígena e os sons da mata. Por outro lado, o som do batuque que veio da África, o Maracatu – setecentos batuqueiros celebrando a coroação dos reis negros, e a dança alucinante cheia de graça do Frevo, movimentos frenéticos, coloridas sombrinhas nas mãos, equilíbrios que surpreendem pela rapidez dos passos da ponta do pé à ponta do calcanhar, tomam conta das ruas de Recife e Olinda. O carnaval de Pernambuco é único, com um jeito antigo de festar. Tem bonecos gigantes de Olinda e teatro mamulengo. Tem marchinhas, ranchos de pastorinhas e imensos blocos com nomes pícaros como o Cabralada, Caboclinho, Cabeções, Caretas, Bacalhau com Batata e o Galo da Madrugada,o maior bloco carnavalesco do Brasil.

SEGURA ESTE SAMBA E NÃO DEIXA CAIR...
Lélia Pereira da S.Nunes

 Caetano Veloso está certo ao cantar que “atrás do trio elétrico/ só não vai quem já morreu/quem já botou pra rachar/ aprendeu,que é do outro lado/do lado,de lá do lado/que é lá do lado de lá(…)” pois,a explosão do samba Axé leva pelas ruas de Salvador um rio de genrte pulando atrás dos “trios elétricos” que há 60 anos esquentam o carnaval da Bahia.
É no desfile das grandes Escolas de Samba que a efervescência cultural brasileira se revela na sua plenitude. É arte, cultura e diversão. No Maculelê, no sapateado do Jongo, nos blocos e ranchos de ontem está a origem da Escola de Samba de hoje. A maior vitrine do carnaval do Brasil. O enredo de cada Escola de Samba apresenta uma multiplicidade de temas, expressa a multiculturalidade e a história do povo brasileiro e de outros povos que o carnavalesco com criatividade e ousadia leva para a avenida e faz brilhar. Reverencia. Ensina. Levanta o público na arquibancada que canta junto, aplaude, aprova, aprende. É o reconhecimento popular, mesmo não levando o título de campeã. Uma convergência de sentimentos, uma cumplicidade que vara a madrugada e que faz do samba a alma, a identidade do Brasil.
Enredos fortes, de aproximação cultural como a escola “X-9 Paulista” que em São Paulo, no sambódromo do Anhembi, mos
tra na avenida o encontro da cultura portuguesa com a brasileira no enredo Do Além-mar, a Herança Lusitana Nos Une… Ora, pois! A X-9 é Portuguesa com Certeza. Ou, de reconhecimento e homenagens, como os enredos das grandes escolas do Rio de Janeiro, no sambódromo da Marquês de Sapucaí. Sem falar em escândalos e nem corrupção (nem caberia, claro está), a “Beija Flor” de Nilópolis canta os 50 anos de fundação de Brasília comemorados no próximo dia 21 de abril. A capital da esperança marca também um recomeço, uma aurora de um Brasil destemido que avançava para o sertão do planalto central, num projeto ousado, moderno, deslumbrante. Este ano, a “Estação Primeira da Mangueira”, a escola verde-rosa, traz para a avenida o enredo Mangueira é Música do Brasil, exaltando as estrelas imortais da musica brasileira. Enquanto, a “Vila Isabel”, com um belíssimo samba, de autoria de Martinho da Vila, homenageia o centenário de nascimento de Noel Rosa: Noel a Presença do “Poeta da Vila”

SEGURA ESTE SAMBA E NÃO DEIXA CAIR...
Lélia Pereira da S.Nunes

A religiosidade do nosso povo e a devoção ao Divino Espírito Santo estão na “Imperatriz Leopoldinense” que enaltece o sagrado no enredo O Brasil de todos os deuses. Pelas mãos do carnavalesco Paulo Brito, a Unidos da Tijuca chega consagrando o segredo da ousadia com o intrigante e genial enredo É Segredo. Um olhar de assombro perpassa na Sapucaí durante os oitenta minutos de sua meteórica passagem a começar por sua Comissão de Frente na dança coreografada com truque de magia e ilusionismo. O segredo é a alma do negócio, com certeza a Unidos da Tijuca teve o seu guardado a sete chaves e o revelou com elegância, arte e criação.
Aí reside a grandeza do nosso carnaval.
Já que é tempo de carnaval, vou cair na folia e sair cantando o samba enredo da minha escola, a Protegidos da Princesa: “ Amor, vou te levar…/Pra conhecer cada estrela do meu céu/ Vem nos meus braços viajar e ver/Que a energia está em mim e em você(…)”
Depois de zanzar pelas trilhas do samba e se embrenhar na corrente dos foliões pode-se entender o jeito brasileiro de viver a fantasia de mais um carnaval, um momento de sonho, de seguir um novo balancê e se perder no bloco do prazer neste país imaginado onde tudo é possível. Até se esquecer de si e só cair na real depois da quarta-feira de cinzas…E daí?
Segura este samba e não deixa cair!

15 de Fevereiro de 2010
Praia do Arroio Corrente,Jaguaruna

Créditos imagens:
1. Unidos da Tijuca – Fabio Costa.Riotur;
2. Reveillon Beiramar,Florianópolis, LNunes,acervo Blog Comunidades;
3. Baianas,Estação Primeira Mangueira, Vanderlei Almeida,Fottus
4.Galo da Madrugada,Tuca Vieira,Pernambuco;
5. Festa do Divino,homenagem Imperatriz Leopoldinense, Dhavid Normando,Riotur

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